sábado, 24 de dezembro de 2011

Carta para mim

Parece que foi ontem que tu estavas aí na escada esperando a Kombi do 25 de julho chegar, né? Quanta coisa e quanta história nos separa. Se eu pudesse te dizer algumas coisas que te fizessem chegar até aqui um pouquinho só diferente...
Tua família não vai ser a mais perfeita, mas vai ser sempre tua. Abraça e beija as tuas avós, diz pros teus pais que tu ama eles, acredita sempre que os teus irmãos são os teus melhores amigos. E sempre que tua mãe disser "depois não diz que eu não te avisei", dá ouvidos a ela.
Sorri praquele menino que te chama de "fofura" na Kombi, serão poucos os homens de valor que vão cruzar o teu caminho.
Leva as coisas até o fim. Não abandona as aulas de piano, de ginástica ritmica, de tênis, de desenho, de equitação. Nem mesmo as de inglês, italiano, francês e espanhol. E muito menos a Faculdade de Artes Plásticas. Quando estiver no colégio e também depois, na faculdade, presta atenção até mesmo naquela aula mais chata. Mais tarde tu vais sentir falta delas e isto não vai te impedir de brincar de polícia e ladrão no colégio nem de jogar sinuca na faculdade.
Não demora tanto pra começar a conhecer esse mundão, viaja sempre que puder, vai para todos os lugares que conseguir, desbrava cada canto de cada cidade, sente cada cheiro de cada caminho, grava cada um dos rostos de cada pessoa. Ah. E se um dia pensares em fazer algum curso no exterior, guarda o dobro do dinheiro que julgarias necessário; se tudo der errado, vais ter como consertar.
Usa sempre óculos escuros, não franze a testa, não deixa tua mãe te convencer a cortar o cabelo curtinho e com franja então nem pensar! E especialmente uma coisa: quando te chamarem de magricela em vez de chorar, solta uma gargalhada bem alta.
Confia em ti, acredita que tu é capaz, não perde nunca a coragem. E que inveja e ciúmes sejam sentimentos que passem despercebidos pela tua vida. Chora, grita, esbraveja, mas saiba a hora certa de fazer isso e também a hora de parar. Torço que tu sorria muito mais do que chore, ou melhor que tu gargalhe tanto que te faça chorar. Ah, mas quer saber? Quando precisar chorar chora, sente, mas não a ponto de doer. Escuta mais do que fala, mas quando falar, faz com que os outros te escutem. Dança, canta, brinca, pula, te solta, não te envergonha, não te intimida, não te esconde, não tenha tanto medo de tanta coisa. Não complica o que é simples e sempre que possível simplifica o que parece complicado.
Um dia, depois de pegar muitas Kombis, cair muitos tombos, engordar alguns quilos e tomar muitos porres, tu vais aprender o significado da palavra clichê e vais achar que eu te disse vários deles nesta carta. Mas talvez neste mesmo dia tu já saiba que a vida é mesmo um grande clichê. E encerrando com mais um deles te digo: ela é uma só, aproveita.



5 comentários:

Pávula disse...

Olá Kelen, tudo bem?
Sempre leio o blog e gosto muito dos seus textos. Esse, em especial, é muito bacana...
Grande abraço.

Pávula

www.blocodomimimi.com.br

Luciane disse...

Adorei. Vou escrever uma para mim tambem, mas ao contrário, vinda da menina pequena para a menina comprida de hoje. Beijo com saudades e com alegria de sentir tua felicidade!!

Kelen disse...

<span>Obrigada Pávula! Foi ultra inspirado em uma reportagem da Zero Hora da véspera do natal com este mesmo nome.  </span>
<span>.:.  </span>
<span>Lu, confesso que pensei nisso, inclusive acho que foi o que o Duca Leindecker fez. Um dia eu testo o que ela teria a dizer pra mim! Na real, será que não seria quase a mesma coisa? Beijo enorme com saudades de ti também!</span>

Claudio disse...

Um Feliz 2012 para você, Kelen!

Tati Braun disse...

Adorei!!!Cheguei a ler 2 vezes e pensar o que eu escreveria pra mim...
Beijao, saudade