quinta-feira, 12 de abril de 2007

O endereço muda, mas ele não me abandona

Entrei hoje de manhã no T9 e sentei lá no fundão que, como se fosse uma sala de aula, tem a sua turma típica. Elas são todas diaristas e falam pelos cotovelos dos patrões e de todo resto. Meu lugar era do lado de uma mulata, que não pagava imposto pra dar risada. Muito menos pra falar.

“Ué, mas tá vazio esse ônibus, viemos esmagadas a semana toda e hoje essa vaziez! O que será que houve? (a pergunta foi pra mim...). Ah, já sei, deve ser porque o Grêmio perdeu. Vocês viram? Tomou três! Mas o mais lindo eram os neguinho comemorando dançando assim ó (imitou a dança...). Mas foi bom pra eles descerem do salto. Mas agora vem o Amoroso, sabia? Que maravilha, aquele homem é tudo de bom. O quê? Vai cozinhar prum monte de psicólogo? Credo, graças a Deus meu patrão é pão duro, nunca convida ninguém pra não gastar. Tchau minha linda, vai com Deus. Olha o salto daquela ali, Jesus. Se eu coloco um desses quebro todos meus dedinhos. Aqui ó: tênis. Depois que comecei usar isso nunca mais quis saber de ir em casamento pra não ter que enfiar sapato desses no pé. Que? A cobradora? Pois é, acho que a gordinha foi demitida, andaram fazendo uma limpa. Também, vivia dormindo! E era mau humorada, pelo amor de Deus. Um dia eu disse “Bom dia Paulinha” (cotovelada em mim...). O nome dela era Paula. Ela até resmungou um bom dia. Vai entender, deve tá de mal com o mundo por ser gordinha (levantou pra descer do ônibus...). Tenho culpa eu? De ter esse corpo? (empinou e bateu na bunda colada numa fuseau floriada pra me mostrar...). Quarenta e quatro anos e esse corpinho. E com um filho de treze! Um negão muito do lindo. Tchau querida, tudo de bom, bom serviço, te cuida”.


Esse é o bom e velho T9.

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