domingo, 31 de outubro de 2010

Who'll stop the rain?

Minha casa normalmente fica fechada, bem trancada. Por medo, por segurança, por precaução. Mas às vezes vejo um raio de sol entrando por uma fresta e acabo abrindo a porta.
E antes eu só abrisse a porta, mas quando vejo esse raio esqueço todo medo e mal espio pelo olho mágico. Escancaro a porta, abro as janelas, subo as persianas, entrego a chave.
Só que nem todo raio de sol significa tempo bom. Ele pode simplesmente ter escapado por entre nuvens e num piscar de olhos desaparecer. E pode ventar forte. E pode começar a chover. E com a casa aberta, isso vai acabar bagunçando toda ela.
Mas já diz o ditado, depois da tempestade sempre vem a calmaria. Aos poucos eu junto o que caiu, colo o que quebrou, limpo o que sujou, seco o que molhou.
O único problema é que acabo batendo a porta, fechando as janelas, baixando as persianas, trocando a fechadura. E cada vez que isso acontece, aquela fresta diminui.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

...

Só por um momento, vou deixar guardado todo o meu pensamento.

Previsão do tempo

Ninguém precisa do Cleo Kuhn pra saber a previsão do tempo de amanhã. Basta lembrar que a feira do livro começou pra saber que vai chover.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Marketing nas empresas aéreas

A Gol bem que poderia mandar um torpedo avisando: "cara passageira, seu vôo atrasará. Aproveite este tempo para passear por São Paulo onde faz um lindo dia. Quem sabe ir até a Bienal? Entraremos em contato comunicando o novo horário de embarque. Um bom passeio!"

Lightning


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ressaca

Se eu disser que não votei no primeiro turno porque odeio política e porque quero mais é que o Serra e a Dilma se explodam (não necessariamente nesta ordem) vou parecer imatura e pouco preocupada com o futuro do país. Pois eu não fui votar. Não só porque odeio política e porque quero mais é que o Serra e a Dilma se explodam. Mas porque estava de ressaca. O meu atenuante talvez seja na verdade um agravante e prove que eu sou imatura, mas eu voto em Gramado, me dêem um desconto. Eu juro que me preocupo com o futuro do país, tanto que hoje fui regularizar minha situação (não, eu não saí da cama sequer para justificar). Aí veio o castigo.
Fui até o TRE de táxi, pois já comecei a segunda-feira atrasada. Treze reais depois, peguei minha senha, sentei e esperei. Fui chamada pelo atendente em meio a uma calorosa discussão sobre o bolsa família da qual não tive a menor vontade de participar. O Sr. Guichê questionou minha ausência na eleição e me olhou com cara feia quando disse que estava de cama (de cama, na cama, não importava para ele, usei a preposição que menos me desfavoreceu). A cara só piorou quando comuniquei que não tinha atestado médico. Fui repreendida veementemente. Não ousei dizer que não existe atestado para ressaca e falta de vergonha na cara. Indignado, me falou que teria que pagar uma multa. Sim meu senhor, eu vim até aqui para isto! E o castigo não é o valor ridículo de três reais e cinquenta centavos, o castigo é estar atrasada e com pressa e ter que ir até o Banco do Brasil a três quadras dali, pagar esta quantia patética e voltar até ali para apresentar o comprovante. Quase não quis mais votar no segundo turno. Quase xinguei por eles não terem uma maquininha do Banco do Brasil ali instalada. Mas não. Apenas saí bufando em direção ao banco. Ainda mais atrasada e ainda mais bufando, voltei, peguei uma nova senha e esperei. Desta vez agradeci não estar havendo nenhuma discussão sobre coisa nenhuma, porque se houvesse eu entrava, ah entrava. Assunto resolvido e treze reais depois, cheguei pontualmente para o meu compromisso das onze horas.
Depois do dia 15 de novembro voltarei ao TRE. Não, não vai ser para justificar a minha ausência também no segundo turno. Estarei em Gramado no domingo e dedicarei meu feriadão (além dos 100 reais gastos entre justificativa e passagens) ao futuro do Brasil. Vou voltar ao TRE para, depois de 16 anos morando em Porto Alegre, mudar de uma vez por todas meu título para cá. Já sei o que vai acontecer, é regra: vão me chamar para ser mesária nas próximas eleições. Tudo bem. Vou lá comer bergamota, tomar chimarrão e fazer novos amigos. Pelo menos o meu voto estará garantido. Mesmo que eu odeie política e queira mais é que os candidatos (sejam eles quem forem) se explodam. E mesmo que eu esteja de ressaca.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sinceridade é tudo nessa vida

No telefone com o meu afilhado:
- E aí, foi bom esse tempo só com o vô e com a vó?
- Foi sim.
- Mas tá com saudades da mãe e do pai?
- Sim, né!
- E da Dinda?
- Também, mas menos do que da mãe.

Cheio

"É sempre bom lembrar, que um copo vazio, está cheio de ar."
(Chico Buarque)

Vamos coçar o saco

Troca de e-mails entre duas mulheres.
Xororô de um lado, xororô do outro, até que recebo uma resposta inspiradora:

"Eita que choradera essas duas! Semana que vem arranjamos umas aulas de boxe pra suar, um futebol pra assistir, um jogo de poker pra apostar... sei lá, qualquer coisa pra trazer nosso lado macho de volta."

Vou abrir uma cerveja gelada pra ver se esse lado chega mais rápido.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Meu anjo

Falando por telefone com uma fornecedora paulista, há dias só escuto: "Muito obrigada meu anjo!", "Tudo certo minha flor!". Quero ver se na semana que vem quando ela me conhecer ao vivo os adjetivos vão seguir assim, tão meigos.

Futuro do pretérito

Há alguns meses uma amiga muito próxima enfrentou um problema muito grave. E além de ter que matar aquilo no peito, ainda teve que tomar decisões paralelas que envolviam o futuro dela e de outra pessoa. Na hora de aconselhar, eu dei minha opinião sincera: "olha para o nosso passado, há dez anos nós nunca imaginaríamos estar aqui e agora, cada uma em uma situação totalmente diferente daquela que na época parecia tão definitiva aos nossos olhos. Seja um pouco egoísta, pensa só em ti, ou pelo menos principalmente em ti". Naquele momento eu via o futuro como a parte mais importante da decisão.
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Hoje fui a uma palestra com um ilustrador que conhecia só de nome. Estava ali distraída e impressionada com o colorido das ilustrações, quando ele comentou em meio a apresentação
"...foi quando eu descobri que tinha câncer e tive que voltar para o Brasil". Daí para frente aquele colorido se tornou ainda mais intenso aos meus olhos e enquanto ele seguiu falando, percebi que ele continuou pintando e encarando o que estava acontecendo, mas vivendo e pensando apenas no presente. O encerramento da palestra foi feito com uma frase que assinou embaixo dos meus pensamentos: "The present is the only thing that has no end".
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Às vezes é difícil entender que é o hoje que importa, que é ele que está acontecendo, que é para ele que precisamos dar valor. Amanhã tanta coisa pode ser diferente. Eu posso ter mudado de ideia. Eu posso não pensar da mesma forma que pensava hoje.
 Eu posso nem mesmo estar aqui. E desse jeito eu posso ter deixado de viver da maneira que eu gostaria, com medo do que poderá (ou não) acontecer amanhã. Eu não quero mais pensar no que eu deveria ou não ter feito, no que eu deverei ou não fazer, levando em conta o que isso pode representar daqui há um, cinco ou dez anos. Simplesmente porque eu não quero ser feliz daqui a um, cinco ou dez anos. Eu quero ser feliz hoje.
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A propósito, minha amiga tomou a decisão que achou mais acertada, mas não só para ela: para ela e para quem é o presente dela hoje.

domingo, 17 de outubro de 2010

sábado, 16 de outubro de 2010

A bicicleta tem telefone?

Descobri que passear com a minha bicicleta dobrável tem o mesmo poder de passear com um cachorrinho. Hoje me pararam na sinaleira para pedir o nome dela. A diferença é que nesse caso, quem rosna é a dona.

Corações Solitários

Manicure e pedicure assuntando:

- Ah eu não quero homem pra sustentar. No Corações Solitários do Diário Gaúcho as pessoas já estão pedindo: situação financeira definida.
- Ih... já começaram pedindo mal. Só pobre lê Diário Gaúcho.

Síndrome do eterno retorno

Estava sentada sozinha na mesa de um bar esperando uma amiga, quando vi ele se aproximar. Um pouco pela minha miopia, um pouco por ele estar com um corte de cabelo tão diferente, não o reconheci imediatamente. Até ele parar do meu lado com um sorriso gigante e dizer:

- Eu posso saber quem é que está te fazendo esperar desse jeito?

O meu sorriso se transformou em um sorriso tão grande quanto o dele. Aqueles lindos olhos azuis tinham ido parar em um lugar sem acesso da minha memória. Por algum motivo que eu naquele momento não entendia muito bem, não lembrava de ter lembrado da existência dele em nenhum momento da minha vida nos últimos quase dois anos. Conversamos sobre os outros, sobre Chico Buarque, sobre Nietzsche, sobre Whisky, sobre o Rio, evitamos o futebol e falamos sobre a vida:

- E tu, firme com a namorada?
- Sim, firme!
- Que bom!
- E tu?
- Eu sigo firme também, do outro lado! Sempre enfiando os pés pelas mãos.
- Kelen, Kelen. Essa é a Síndrome do Eterno Retorno. É tudo um grande ciclo e quando vemos estamos sempre repetindo os mesmos erros, as mesmas coisas, e ...

E de repente eu lembrei. Como se tivesse sido ontem, eu lembrei. Do quanto eu tinha sido interessante. E do quanto eu havia me transformado em uma pessoa desinteressante sem saber porque. Mas eu sabia sim. Sabia há dois anos, e hoje, repetindo os mesmos erros, sei ainda melhor. E foi por isso que ele foi jogado em um lugar sem acesso da minha memória: porque ele escolheu assim.


- Bem melhor quando são os acertos que se repetem, né?


Nos despedimos ainda sorrindo com um abraço apertado e um sinceríssimo "bom te ver"A história que transbordou na minha cabeça depois do encontro, abriu meus olhos míopes de uma maneira assustadora. Então decidi manter a parte ruim da história naquele mesmo lugar sem acesso da minha memória. Mas trouxe para uma área bem acessível a parte boa, a que eu quero que seja sempre um eterno retorno. Aquela parte que simplesmente dizia "me haces bien".

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Cegos

"O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são."
(Nietzsche)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Prefixos

Onipotência.
Potência.
Impotência.


Nunca tinha parado para analisar a ligação entre essas palavras.
Tampouco tinha percebido que nós alternamos entre elas sem parar. 

Interrogatório

Medindo uma loja, vendedora assuntando, eu meio sem paciência:
- Tu tem filhos?
- Não.
- É casada?
- Não.
- Namorado?
- Não...
- Mas como! Uma moça tão bonita!
- É que eu sou chata.
- Não parece!
- Até eu terminar de medir a loja tu vai começar a concordar comigo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Onomatopéia

Vrrrrrum. Zummm. Vuptttt. Crashhhh.

Tudo é muito rápido. Tudo é uma questão de tempo. E ele passa e não para. E corre e não volta. E avança e não espera. Eu tento manter o controle mas quando me dou conta já atropelei. Piso no acelador e acabo sendo multada por excesso de velocidade. Independente da preferencial sempre acabo passando o sinal fechado. Posso frear, mas frear causa impacto e deixa marcas.

Vou dar tempo para o tempo encontrar o seu tempo. Enquanto isso vou em busca da onomatopéia da velocidade constante.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Atenção senhores passageiros

Uma amiga mandou um e-mail com uma promoção da Tam com o seguinte texto: "Só me vem um nome na cabeça: ke-len!". Pudera. Numa promoção com o nome de "A melhor viagem do mundo", onde o prêmio era nada mais nada menos que dois meses viajando por cinco cidades espalhadas pelos cinco continentes eu realmente não poderia ficar de fora.
O tema: brasilidade. Barbada. O problema era outro: não era um texto, uma frase, uma foto. Era um vídeo. E eu morro de vergonha de falar na frente de uma câmera, mesmo que o cameraman seja o meu criado-mudo. Pensei, pensei e decidi que faria um vídeo montado com fotos, paciência. Até porque eu tinha uma semana para montar e, obviamente, já sabia que deixaria para o último dia.
Vasculhei álbuns e juntei todas as fotos onde exibia minha canga do Brasil, bandeira do Brasil ou qualquer outra coisa verde amarela que entrasse no contexto. Defini o slogan "O brasil tá em todo lugar" e somei a ele um trecho de um samba enredo que adoro, apesar de detestar a Mangueira: "me leva que eu vou". Como o verde e o rosa da música não encaixariam com o tema, comecei a procurar uma música bem brasileira para usar de fundo para o meu slide show. Optei por "Isto aqui, o que é" e fui atrás de um download de alguma versão. E quem disse que eu acho? Nem com Caetano Veloso, nem com Ary Barroso. Com meu tempo esgotando decidi facilitar: vou cantar. Com vergonha até das paredes, completamente vermelha na frente do computador, sem batucada, sem instrumentos e com bem pouca afinação, treinei e registrei meus 30 segundos como cantora.
Não, não levei a promoção, como sempre. Mas aguardo contatos para contratação como cantora de jingles. Ou quem sabe locutora de aeroporto.



sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Eat, Pray, Love quotes

"This is a good sign, having a broken heart. It means we have tried for something. "
"To lose balance sometimes for love is part of living a balanced."

O casamento do meu melhor amigo

Ele entrou na minha vida há dez anos por causa de um computador. E nunca mais saiu. Primeiro porque o computador nunca parou de estragar. E segundo porque, sem eu perceber, entre um conserto e outro ele virou o irmão mais velho que eu não tive. Daqueles que eu implico, brigo, xingo, grito e só não bato porque é muito maior que eu. E amo. Tanto, mas tanto, que desejo para ele uma felicidade que talvez nem pra mim eu deseje tanto. Sim, ele tem defeitos, é óbvio. DDA, teimoso, atrasado. Já me deixou na mão, já me mentiu, já me abandonou. Mas muito mais do que isso, já me apoiou, defendeu, protegeu e ajudou. O coração dele é muito maior do que a bola de basquete que ele tanto adora e há muito tempo torcia por ele; não nas quadras, mas pra que ele achasse a felicidade, pra que ele encontrasse alguém que merecesse e entendesse esse coração gigante, pra que ele cruzasse no caminho de uma pessoa que conseguisse ver, valorizar e acima de tudo retribuir tudo aquilo que ele tinha pra dar.
E aí surgiu ela. De quem eu não posso escrever tanto pois são dez anos contra um. Mas na verdade não é nem que eu não possa, eu simplesmente não preciso. Basta lembrar do amor que eu sinto por ele e saber que ela é a materialização desta pessoa que eu tanto desejei que entrasse na vida dele. Automaticamente ela entrou na minha e tem um lugar de honra dentro no meu coração.
Amanhã eles casam. Obviamente eu sou madrinha, era um trato antigo. E eu nem tentei separar o casal como no filme, mesmo que um dia também tenhamos feito a promessa: se nada der certo pra nós, um dia a gente casa, se aguenta e vive feliz para sempre. Pra ele já deu certo, pra mim, tenho certeza que ele torce diariamente que dê. Em breve de preferência, para eu deixar o casal em paz. Não consegui arrumar o amigo gay e bonitão para dançar uma música lenta comigo, mas podem ter certeza: mesmo que em algum momento eu fique sentada na mesa com o olhar perdido, em nenhum momento meus olhos vão deixar de dançar de felicidade por vocês.