quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Ô moço, filma eu

Últimos dias de gravação no morro, de segunda a quarta abaixo de um sol escaldante, panturrilhas latejando de tanto subir e descer escadas. Carro pipa e mangueiras preparadas para o efeito especial de chuva, necessário em algumas das cenas, quando o diretor decide:

- Pessoal, vamos mudar a ordem da gravação, deixamos a cena do temporal para quinta que está com previsão de chuva de verdade.

Chega a quinta-feira e a metereologia não falha: já amanhece chovendo. Capas de chuva a postos, molha alguma coisa aqui, protege da chuva ali e depois de algumas horas abaixo de temporal o diretor volta a entrar em cena:

- Pessoal, não vai dar pra gravar com chuva, vamos ter que deixar para amanhã se parar de chover.

(já não sei se torço por sol ou por chuva amanhã pra acabar com isso de uma vez)
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Cena difícil, vários figurantes, e aos gritos o diretor tenta coordenar:

- Por favor gente, sem rir, sem olhar para a câmera se não vamos ter que gravar de novo.

(imagino as pobres pessoas tentando controlar a felicidade sabendo que vão aparecer na novela)
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Estou parada na janela do barraco quando se aproximam duas guriazinhas sorrindo:

- Oi, tudo bem?
- Tudo bem e com vocês?
- Tudo bem também. Olha só, é você que vai ser a mãe da Natália na novela?

(vou ficar só com a parte de terem achado que eu era atriz e ignorar o fato de a Natália ter vinte e poucos anos)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Escalas

Quando fui assistir "Amor sem escalas" já sabia que o filme era bom, mas não sabia ainda por onde ele iria me pegar (fora a parte do personagem principal ser o Gerorge Clooney). Isso até o momento em que o personagem dele começou a dar uma palestra pedindo aos participantes que enchessem uma mochila com tudo o que eles tivessem, desde as mínimas coisas até as grandes. E depois de tudo isso tentassem andar. Entendi a mensagem do desapego e automaticamente me transportei para a palestra e fiz o mesmo. Me dei conta que até aí não tive muitos problemas. Em termos, é claro. Obviamente não consegui mudar de cidade trazendo uma mínima mala de mão. Foram várias malas, trazidas por inúmeras mãos além das minhas próprias. Mas apesar do peso da minha "mochila", eu consegui me mexer. Lembro perfeitamente de cada livro, roupa ou quadro que ficou pra trás, mas consigo viver sem eles. Talvez pelo simples fato de saber que eles seguem lá, mas consigo.
O problema começou quando em outra palestra ele falou das pessoas. Comecei a colocar cada uma das pessoas que importam na minha mochila. E ela ficou bem pesada. Mesmo assim eu ainda consegui me mexer. Só que deste "peso" eu sinto muita falta, porque diferente dos livros, das roupas e dos quadros, não me basta saber que as pessoas seguem lá. Eu quero ler elas, eu quero "usar" elas, eu quero ver elas, eu quero sentir elas, eu quero viver elas. E com elas. E de repente ficou fácil entender porque é tão difícil.
Acho incrível todas essas pessoas que mudam, que se livram do peso ou que nem mesmo tem peso. Pessoas que nunca se apegam, ou que se desapegam e que voltam a se apegar mas por outras coisas, por outras pessoas, por outros lugares, porque as vezes descobrem que estavam até então no lugar errado; pessoas que fazem de uma escala a sua escolha.
Mas definitivamente não vejo problema em decidir por ficar parado. Não acho um defeito ser apegado. É apenas uma escolha que só pode fazer quem já sentiu o peso da sua própria mochila nas costas.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Todo Carnaval tem seu fim

Entrei pro bloco "samba aí que eu tô cansada".

Andando na contramão

Há mais ou menos um ano me convidaram pra fazer um tour por alguma das favelas do Rio. Era minha primeira visita turística à cidade e me recusei terminantemente. Não sei se por falta de vontade ou por implicância, mas o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e o Leblon com certeza ficaram com a minha preferência. Por ironia do destino, mais ou menos um ano depois, acabei optando por acompanhar as gravações de externas no meu trabalho e ainda enfatizei: principalmente quando tiver gravação lá na favela.
Sob um calor dos infernos de uma quarta-feira à tarde, subi pela primeira vez o Morro Dona Marta. Ou melhor, desci. Fomos de carro até a unidade da Polícia Pacificadora pra de lá pegar o bondinho e descer até o local da nossa obra, bem ao lado da laje onde foi gravado o clip do Michael Jackson. Pegar a câmera da bolsa foi automático. Entre crianças soltando pipa, adolescentes desconfiados e meninas posando para fotos, fui andando e fotografando aquele mundo tão próximo de nós, mas que vive uma realidade incrivelmente distante. E confesso que descobri que, apesar do colorido de muitas fotos, a minha resposta negativa há mais ou menos um ano não se tratou de implicância nem de falta de vontade. Foi medo mesmo. Porque diferente da Madonna ou da Beyoncé que passaram pelas mesmas calçadas que eu passei ainda esses dias, eu não estava passeando por lá com um bando de seguranças a tiracolo. Não sei até que ponto vai a tolerância, o respeito e a paz entre as pessoas, nem mesmo o quanto é preciso pra ela (voltar a) virar uma guerra (e isso vai muito além das relações em uma favela). O livro Abusado está na cabeceira da minha cama pra me ajudar a entender um pouco melhor tudo isso, mas acho que ele não vai colaborar muito para me fazer deixar de lado o medo a cada vez que for lá.
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Mais na contramão do que decidir trabalhar na favela, só mesmo estar neste exato momento fugindo do Carnaval no Rio.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Dieta é dose

Com o passar dos anos eu fui enjoando de iogurte, de barra de cereal, de maçã. Agora pergunta se eu já enjoei de leite condensado por acaso?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Medalha de prata

O Rio de Janeiro é o 2º lugar mais quente do mundo neste verão. Imagino que delícia deve estar em Gana, que arrematou o primeiro lugar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ex cidade

Porto Alegre pra mim é como ex depois de levar um fora: enchia de defeitos quando tava perto; agora que tô longe só enxergo as qualidades.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Daqui a muitos anos, numa terra desconhecida...

- E aí meu neto, a vó pegou tudo que tinha e vendeu pra se juntar com aquele que eu pensei lá pelas tantas que seria teu avô. Cama, fogão, geladeira, tudo, tudinho. Sobrou meia dúzia de móveis, como esse aqui onde a vó ainda guarda a roupa de cama. Mal sabia eu...
- Não deu certo vó?
- Mas não durou nem nove meses, meu filho! Tu não estaria aí hoje! Então depois de nove meses a vó foi lá, alugou um apartamentinho bem pequeninho e comprou tudo de novo, teu bisavô emprestou um dinheirinho e eu refiz a minha casa.
- O bisa é um cara legal, né vó?
- Naquele tempo ele me achava um pouco tan tan, mas ele sempre foi ótimo. Ele e a tua bisa só tiveram certeza de que eu era tan tan mesmo, pouco mais de um ano depois, no dia em que disse que ia vender tudo de novo, morar uns tempos no apartamento da tua tia avó junto com teus tios avôs, pra no meio do ano me mudar pra a Espanha.
- Espanha vó? A senhora morou na Espanha?
- Humpf. Era pra ter morado. Ah, Barcelona... fui até lá estudar, mas aqueles sem vergonhas daqueles catalães cancelaram o meu curso. Desempregada e sem o tal curso, tua vó colocou uma mochila nas costas e ficou por quase um mês viajando pela Europa. Essas coisas todas aí da estante, a Torre, a Máscara, o Pinocchio, essa boca que é de um artista muito famoso, tudo a vó trouxe dessa viagem. Foi lindíssima...
- E quando a senhora voltou, fez o que?
- Segui trabalhando, segui morando com teus tios, procurando uma casa para morar em Porto Alegre, mas tinha alguma sarna coçando mais uma vez, e um belo dia a tua vó aqui decidiu que queria se mudar pro Rio de Janeiro.
- De novo vó? Mas a senhora não parava quieta nunca?
- É meu filho, eu tinha muita energia e acho que não sabia muito bem onde colocar. Fiz minhas malas, deixei minhas poucas coisas na casa da minha irmã e me fui.
- E gostou de lá vó? O Rio é tão bonito! E a senhora adora praia até hoje!
- É bonito sim... mas eu quase enlouqueci naquela terra. Grande demais... pra mim, que sou de Gramado então? Me sentia perdida! Muito barulho, muita gente, muito trânsito, e tudo tão longe que só vendo. Ainda bem que tinha grandes amigos lá. Fiquei mais de um mês hospedada de casa em casa, parecia uma cigana! Mas era a Globo, né meu filho, eu não podia deixar de trabalhar lá.
- Nossa vó, a senhora trabalhou na Globo!
- Trabalhei sim. Mas a melhor parte vem agora. Sabe o que a tua vó fez pra se livrar dessa cidade grande que tanto assustava ela? Foi morar em uma ilha!
- Uma ilha vó? No Rio? Mas chegava como até lá?

- Pega aquela foto ali na estante. Tá aqui ó: Ilha da Gigóia é o nome dela. Tá vendo esse barquinho na lagoa? Tinham vários deles que davam toda a volta na ilha e me deixavam na porta da pousada. Pra ir trabalhar de manhã, era só tocar o sino que um deles vinha me pegar. A melhor parte do dia era quando eu descia do ônibus depois do trabalho, caminhava até a beira da lagoa e subia no barquinho. No verão, aquela era a única hora do dia em que soprava um ventinho no rosto. Eu fechava os olhos e agradecia por ter encontrado aquele lugar maravilhoso!
- Nossa vó quanta história legal! Tá, mas me conta uma coisa: e quando foi que a senhora conheceu o nosso vô?
- Mas sabe que é engraçado, meu filho, essa parte eu não consigo me lembrar? A vó tá ficando caduca, deixa isso pra lá.


É... acho que já não posso me queixar de falta de histórias pra contar pros meus netos.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Cinquenta e dois minutos de corrida e cinco minutos de fama

Minha terceira corrida no Rio, segunda este ano, mas a primeira com um cenário de tirar o fôlego. Depois de quase derreter por duas vezes no Aterro do Flamengo, o que também de certa maneira me tirou o fôlego, me inscrevi nos 8km da Summer Runs Leblon-Leme. Ter o mar ali do lado em tempo integral é realmente inspirador, apesar da tentação de sair correndo pela direita e me jogar nele ter sido enorme. Outra coisa engraçada neste trajeto, é que óbviamente não existe trânsito de carros, mas como fazem todos os banhistas que querem atravessar até a praia? Esperam a manada passar ou torcem pra se salvar do atropelamento? Entre corredores, velhinhas, cachorros e seus donos, gringos e carregadores de cadeiras de praia, todos sobreviveram. Pontos para a estrutura com spray de vapor d'água no meio do percurso proporcionando mais ou menos um segundo de puro prazer. Pontos para os ventiladores com vapor d'água na chegada da prova proporcionando alguns segundos a mais de prazer. Muitos pontos para o Gatorade extra gelado na chegada da prova. Pra completar, bem suada e acabada, fui entrevistada pelo blog da Nike Corre. Várias corridas... uhm... três corridas já podem ser consideradas várias, não?