sexta-feira, 26 de junho de 2020

Quem manda, afinal

 Eu e o Guilherme estávamos na peleia diária de quem estava mais atrasado com seus trabalhos enquanto Lucas e Melissa ficavam em volta aguardando a decisão. O Lucas, que não pode ver a gente discutindo - mesmo que não seja exatamente uma discussão, já vai se intrometendo:

- Mamãe, não fala mais isso.
- Isso o que , Lucas?
- Isso com o papai!
- A gente não tá brigando, meu amor, é que nós dois precisamos trabalhar.
- Não dá pra ser os dois ao mesmo tempo, mamãe.
Ainda bem que alguém ainda está raciocinando nesta casa!

terça-feira, 16 de junho de 2020

Brincadeiras

 Tem aquelas brincadeiras de marido e mulher que sempre se repetem, né?

Guilherme adora brincar de me deixar "presa" na área de serviço quando já chego em casa dando instruções. Pois cheguei em casa exatamente dessa forma e ele, como não poderia deixar de ser, me chaveou lá dentro sozinha.
So-zi-nha!
Filhos e cachorros ficaram com ele, lá do outro lado da porta. Cheguei a suspirar em pensar: finalmente um verdadeiro isolamento! Mas durou pouco, fiz a bobagem de dividir a emoção:
- Tenho banheiro, durmo no depósito que tem até geladeira, tá beleza! Mas só me solta amanhã, faz favor!
Tem aquelas brincadeiras de marido e mulher que nunca mais se repetem, né?

segunda-feira, 15 de junho de 2020

O chaveiro

Saí pra fazer uma chave ali no chaveiro da esquina. Mostrei a chave quebrada e quando fui tirar pra que ele fizesse a nova ele me disse:

- Deixa que eu tiro, vai estragar a tua unha.

Eu, que não sou muito de estender assunto, praticamente desabafei:

- Que estragar o que, com essa pandemia dos infernos nem faço mais as unhas de tanto lava-limpa-corta-torce-esfrega.
- Ah, teve que aprender a fazer isso, né?
Foram segundos em duvida entre o "olha aqui seu velho de merda, eu faço sim, só que agora tenho que fazer ainda mais porque a pessoa que me ajuda uma vez por semana está dispensada pra não correr riscos e sim eu sigo pagando ela o quanto eu posso, seu metido" e "é verdade, o senhor tem razão". Na duvida, fiquei quieta.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Tu sabe?

Tu consegue saber exatamente o que tá certo e o que tá errado nesse período que a gente tá vivendo? Eu não.
Hoje fechamos noventa dias de distanciamento social. Noventa dias de marido-mulher-filhos-cachorros em casa em uma convivência vinte e quatro horas por dia sete dias por semana como nunca antes vivenciado. Já fiz o melhor bolo da vida e já quis arremessar uma forma queimada pela janela. Já dancei até cansar com meus filhos e já não tive forças nem pra tirar um pé do chão de tão cansada. Já quis estrangular meu marido e já quis me ajoelhar e agradecer por ter ele na minha vida dividindo essa bronca. Já fiz mil atividades educativas e já liberei a TV por um turno inteiro. Já me vangloriei por não ter engordado uma grama e agora já tô agradecendo se não passar de dois quilos. Já chorei muito, mas foi vendo a reprise do Mundial do Inter, devo ter descarregado tudo que eu queria ter chorado em alguns tantos outros dias dessa noventena vendo um jogo que já conhecia o final. Estive em Gramado e na praia. Não abracei ninguém, nem com saco plástico nem sem. Vi meu filho correr e brincar em um lugar aberto, livre, que não fosse a nossa casa. E que alívio ver a alegria estampada no rosto dele. Adultos sofrem? Crianças sofrem mais, com certeza, já que elas sequer tem noção do porquê dessa mudança repentina e radical na vida delas, por mais que a gente tente explicar. Regressões, ataques de fúria... por trás de muitos momentos lindos tem muito momento foda de lidar. Estou dando meu melhor e não faço ideia do quão bom ele está sendo. Tenho álcool gel em todos os lugares possíveis, o que não é nenhuma novidade em uma casa com duas crianças pequenas, mas com certeza hoje uso muito mais. Acho que meus dedos não vão cair por causa disso, será que vão? Máscara funciona? Não sei, tu sabe? Duvido, no máximo tu acha que sabe. Mas não muda em nada a minha vida usar uma, ainda mais se isso puder de repente ajudar. Vou ao super, a farmácia, passeio com as cachorras, busco uma tele, não faço muito mais que isso. Definitivamente não pretendo ir ao shopping ou a restaurantes. Ao mesmo tempo só não voltei a fazer minhas aulas de bike pendentes porque não tenho tempo e só não fui fazer as unhas porque vou estragar na primeira louça lavada ou roupa esfregada e não tô podendo rasgar o salário do marido à toa. Mas não condeno quem está fazendo isso se estiver fazendo dentro das normas estabelecidas. O dono da minha academia precisa sobreviver. A minha manicure precisa sobreviver. Todos precisamos, não é mesmo? Com certeza mais fácil pra mim, com Netflix e Ifood a disposição, ainda que sem um puto na conta. Radicais da quarentena, que acham que uma volta na quadra mata, me dirão que estou agindo errado, que não estou pensando nos outros. Desculpa aí, mas tô sim, talvez nossos parâmetros de distanciamento social não sejam os mesmos. Negacionistas me dirão que isso tudo é uma bobagem sem tamanho e que eu sou uma idiota. Também te acho um idiota, então estamos quites. Estou fazendo o que está ao meu alcance e o que eu acho que talvez quem sabe possa estar certo. Tu sabe exatamente o que tá certo? Duvido. E se acha que sabe, me poupe.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Sorobô

Guilherme faz churrasco sábado, que vira carreteiro no domingo, que é feito em quantidade suficiente pra ser o almoço da famigerada segunda.
- Lucas, vai brincar mais um pouco que vou esquentar o almoço.
- O que vai ter de almoço, mamãe?
- Carreteiro.
- De novo?
(e talvez na janta.)