segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Me despindo de preconceitos

E da parte de cima do biquini também.

(se vocês tivessem visto a turma da terceira idade que estava totalmente peladona - e feliz da vida - na praia que fui hoje, vocês entenderiam como eu consegui me livrar da minha imensa vergonha...).

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vivemos de paixão, e alguma grana

Sexta-feira, cinco da tarde, eu e Gabi, beira da praia, claras na mão, altos papos cabeça em meio ao banho de sol:

- Não sei Kelen, às vezes me dá a sensação que a gente tá aqui e só gasta, gasta e gasta.
- Não é uma sensação Gabi, é a pura realidade. Hoje por exemplo...
- Não fala! Vamos beber...
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E depois de um mês (e uma única mala), gostaria de declarar que não aguento mais as minhas roupas!
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Tudo começou com a foto do Jorge Drexler (no show de ontem que eu não fui) todo estilo casual-coisa-mais-querida. Tati comenta:

- Tinha um cara bem tipo ele, nesse estilinho aí, lá no aeroporto na Bélgica. Comentei sobre ele e a minha amiga disse "tu gosta mesmo é de um latino!". Pior que é verdade.
- Eu também prefiro. Esse negócio de inglês, norueguês, escocês, tô fora.
- Eu já fiquei com um inglês, mas ele era um tipo muito bem, loiro, pele morena, e tal.
- Ah claro, uma coisa assim tipo David Beckham acho aceitável!
(momento pensativo)
- Eu nunca fiquei com ninguém de outro país...
(momento pensativo mais longo)
- Eu nunca fiquei com ninguém de outro estado! Só gaúcho!

Nem eu sabia que tinha esse "espírito-gaúcho-separatista" tão arraigado! Mas esse uruguaio... ah, esse eu pegava!


quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Viva la vida

Mais duas cidades espanholas na minha lista: Tarragona e Valência. A primeira, conheci com os amigos e fomos de carro à praia, às ruinas romanas e ao centro histórico. A segunda, conheci sozinha ao estilo Kelen: a pé de um extremo ao outro da cidade sem parar nem para comer. Mentira. Tomei uma horchata maravilhosa num lugarzinho natureba tudo de bom. Não fiquei pra Tomatina no dia seguinte. Além dos tomates passados da festa, achei que eu também já estava passada pra encarar a guerra, ainda mais com essa tal de demofobia. A próxima cidade vai ser Girona. Mas não atrás do Jorge Drexler naquele show de ingressos esgotados, desisti. Lamento por ele que vai ficar mais um tempo sem me conhecer...
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Fui no super comprar quiboa e voltei com amoníaco. Coisas de quem sabe tudo em espanhol.
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"Memórias de minhas putas tristes" foi rapidamente terminado na viagem de volta a Barcelona, e substituído pela peça Besame Mucho, escrita pelo Mário Prata. O próximo livro vai ser em espanhol, prometo (pra mim mesma).
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Uma amiga que adorou a expressão "perder a caixa preta", coisa na qual sou pós graduada (e se a expressão não foi criada por mim, deveria ter sido), ensinou ela para os amigos espanhóis que prontamente adotaram a nova versão: perder la caja negra.
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E sigo andando a pé por esta cidade sem parar. As pernas cada vez mais duras agradecem. Vou voltar pro Brasil pobre, mas bem gostosa.
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A parte ruim destas andanças é que esta cidade se move por metrô e todo e qualquer encontro marcado se baseia pela linha tal, estação tal. Pois esta pessoa que vos fala ainda não possui sequer um mapa do metrô e foi saber a poucos dias quais as linhas estão aqui perto de mim. Pelo menos as saídas do metrôs conheço quase todas, pois é lá que me encontro com as pessoas ainda que chegue nelas a pé.
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E uma amiga vai embora antes do tempo e me deixa a missão de vender o ingresso dela para o show do Coldplay, esgotados há meses. E encerra dizendo: "Tenta vender na hora que tu vende pelo dobro que eu paguei. Mas se não conseguir, vai tu". Y viva la vida...
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Enquanto isso, a cabeça não para de bolar planos e mais planos...

"La vida no para, no espera, no avisa, tantos planes, tantos planes..."
(dele, claro)

domingo, 23 de agosto de 2009

Um pouco de tudo, de tudo um pouco

Delicioso almoço em casa na sexta-feira. Eu e Tati, que normalmente nos revezamos na cozinha (ela três dias, eu um...) não nos falamos de manhã e quando vimos tínhamos dois almoços a vista. O resultado foi um menu completo muito do chique. De entrada mariscos com limão e sal; de primeiro salada de camarões com abacate e broto de alface e de segundo espaguete em tinta de lula com tomates, manjericão fresco e queijo Grana Padano. A sobremesa pra fechar o menu? Mariolas Da Colônia, importadíssimas do Brasil.
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O livro do Tim Maia, o qual terminei as lágrimas, foi substituído pelas Memórias de minhas putas tristes do Gabriel Garcia Marquez. E este baita colombiano será também lido em bom português. Era o que tinha!
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Aqui os supermercados fecham as nove, literalmente. É nessa hora que eles apagam as luzes, esteja tu saindo pela porta ou escolhendo uma alface.
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As festas de Grácia são famosíssimas e super movimentadas. Os moradores decoram suas ruas e participam de um concurso que elege a melhor de todas as decorações. Junto disso tudo, seja no meio da rua ou no meio de uma praça, shows dos mais variados acontecem. Estive lá três vezes. A primeira no domingo passado, em uma infindável sessão fotográfica dos cenários caseiros criados por ali. A segunda vez, na terça, sem destino certo e em meio a uma multidão e um calor infernal, resistindo menos de uma hora assistindo parte de um show de música típica. A terceira e última vez, foi no encerramento, onde o número de pessoas da terça foi multiplicado por cinco e que foi quando eu comprovei que eu tenho total claustrofobia a multidões* (o que na verdade deve ser uma fobia com outro nome) principalmente quando elas são suadas e pegajosas. Agradeço a mim mesma por nunca ter levado a sério a ideia de ir passar um Carnaval na Bahia atrás do trio elétrico.
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Sábado a tarde acabei numa cidadezinha perto de Barcelona, no aniversário de 3 aninhos da filha de uma amiga da Tati. Uma guriazinha linda metade catalã metade baiana, em uma festa que tinha tortilla de batata e brigadeiro, onde tocou de bossa nova a esta sonzeira aqui. E viva as diferenças. E as misturas também.
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Domingo maravilhoso de muita praia, muito sol e de gramadenses reunidos. O dia e a companhia foram tão bons, que decidi prolongar essa coisa boa toda e me agregar a caravana rumo a costa Espanhola, pelo menos até um pedaço: Valência é o meu destino.

* segundo o Sr. Google, demofobia.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Blog em greve

Que vergonha!
Este blog tem praticamente cem acessos por dia e excluindo os meus (que devem ser uns 50) é só isso que ganho de comentários? Ah deve estar muito ruim e eu muito chata (o que não seria exatamente uma novidade), então decretei greve. Não escrevo mais nem mando noticias. Telefonarei nos aniversários e olhe lá. Nos vemos em dezembro. Sim, tô me fazendo de vítima e querendo atenção.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Gastronomia e afins

Lendo o Post da Jojo, que veio lá de longe pra se apaixonar (no sentido mais amplo da palavra) em terras Portoalegrenses, lembrei que ainda neste fim de semana na mesa de um restaurante, comendo uma paella dos deuses, o assunto virou Porto Alegre, ou na verdade, a comida de Porto Alegre, já que tudo começou com a paella do Tablado Andaluz. Sou aí do lado, já que Gramado não está a mais do que 120 e poucos km de distância, mas também me apaixonei e adotei a capital pra mim. Segundo a minha irmã, até Portoalegrês eu passei a falar. E nesses dias de distância desta província, fiquei numa melancolia saudosista divagando sobre as maravilhas gastronômicas da cidade, desde o sanduíche aberto do Ratão e a pizza da casa do Ossip, até o tortéi de moranga com castanhas e o pudim de iogurte do Ocidente complementados pelo Montblanc do Café da Oca, passando pela carne se desmanchando de tão macia da Costela no Rolete e pelo carrinho de saladas do Barranco (e o sanduíche da Primavera, o banquete do Al Nur, o bauru do Trianon, a comida natureba do Machry, o cachorrinho da Princesa...).
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Por aqui, não estou por dentro de muitas dicas gastronômicas, já que como muito mais em casa do que na rua. Fora duas paellas realmente muito boas, e o famoso pão com tomate que é entrada em todos os lugares, não tenho grandes experiências à mesa. A maior festa é mesmo ir ao mercado ou mesmo ao supermercado. No mercado, tudo é colorido, tudo parece bom e até a peixaria com aquele cheiro horrível me deixa com água na boca. Mais ainda devido aos preços dos peixes por aqui. Tenho me contido para não comprar um filé de salmão enorme por medo de não me aguentar e acabar devorando ele inteiro, só que cru. Esse colorido todo (somado a uma colega de AP totalmente natureba) nunca me fez tão saudável e saladas e frutas tomam conta da geladeira. Já no supermercado, virei leitora assídua de rótulos e mais rótulos, passo sorrindo pelos queijos com aqueles preços ridículos de tão baratos e fico louca com a diversidade de cereais, sucos e iogurtes. Por sinal, a minha última aquisição, foram quatro potinhos de um mousse de iogurte, da Danone mesmo, que pra minha felicidade, é igualzinho ao pudim de iogurte do Ocidente.
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Já no quesito bebidas, essa cidade me estragou. Além da sangria já velha conhecida, fui apresentada ao Tinto de Verano, com receitas variadas mas basicamente feito de vinho tinto, refrigerante de lima, vermut e rodelas de lima (por sinal aprendi: aqui limão é lima e lima é limón!). Além dele, a melhor (ou pior) das invenções: a Clara, ou Clarita, onde metade do copo é de cerveja e a outra metade de refrigerante de lima (ou limão...). Bem coisa de mulherzinha e que desce redondinho; difícil mesmo é encarar uma cerveja purinha depois. E aí? Já pensou voltar pra Porto Alegre, sentar na mesa do Ossip e explicar que eu quero uma Polar e uma Sprite pra misturar?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Vinte dias de Barcelona

Deveria ter escolhido um livro em espanhol na pilha de livros da Tati, mas acabei pegando emprestado e estou nos últimos capítulos do livro Vale Tudo, que conta a história do Tim Maia. Além da vida dele que já é um prato cheio, o livro repassa o caminho que a música brasileira percorreu nas últimas cinco décadas. Tem sido minha melhor companhia na praia, na terraza e na cama. Preciso de um substituto urgente.
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Emprestada também, foi a bici que peguei dela no domingo para ir a praia e depois para andar por duas horas pelas ruas da cidade, longe do centro. Paraíso de ciclovia e de sinalização perfeita. Claro que por mais de uma vez, escutei a sinetinha de alguém atrás de mim querendo passar, já que eu estava plantada no meio do caminho tirando alguma foto.
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Depois de vinte dias, ao contrário do que disse depois dos dez primeiros, acho que as coisas mudaram outra vez de velocidade. A preocupação de que vai faltar tempo pra tudo o que eu quero fazer começou a surgir. É a viagem para Figueres e Cadaqués, outra para Ibiza, a semana na Itália, e tem o norte da Espanha, e os lugares de Barcelona que eu ainda não fui, e aí começa meu curso e de repente quando eu vejo já foi. Ô ansiedade que consome essa criatura.
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E já que o tempo realmente voa, foi essa velocidade que me fez desistir de entender certas coisas e pessoas que já não entendia mesmo estando em Porto Alegre. Não vai ser aqui, com um oceano de distância, que vou passar a entender. O negócio é desligar de vez esses "botões" e ver se eles ainda vão estar funcionando quando eu pisar no Brasil.
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Meu pai ficou conectado no domingo esperando eu chegar em casa pra saber como estavam as coisas. Perguntou das dores de cabeça, das alergias, da comida, do trabalho, dos preços, de tudo um pouco. Depois de um tempo conversando disse que a mãe estava ali do lado mandando um beijo e que ia ver se ela queria perguntar alguma coisa. Fiquei preparada, esperando as típicas perguntas: se eu estava comendo bem, se eu já tinha trocado os lençóis e as toalhas, como eu estava lavando a roupa ou se eu estava usando protetor. Que nada; em vez disso só veio de lá: "diz pra ela não escrever tudo no blog!".
Pode deixar mãe, só vou escrever o que eu achar muito legal e importante!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Cheia dos hola que tal

Eu decidi vir pra Barcelona quase dois meses antes do meu curso começar, por motivos que hoje já nem fazem mais sentido, mas de qualquer forma, acho que está valendo a pena. Claro que além desse tal motivo sem sentido, minha cabecinha fez seus cálculos e pensou que seria muito mais divertido ganhar em Euros por dois meses do que em reais. Doce ilusão dessa pobre arquiteta... a crise e as férias fazem com que mais de duzentos currículos enviados depois, me aparecesse... nada. Ou melhor, quase nada.
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Me chamaram em uma empresa de RH e me convidaram pra vender... luz. Tentando ser sucinta (coisa que eu definitivamente não sei ser), os espanhóis tem um prazo pra escolher dentre 19 empresas pra comercializar a luz gerada por outra empresa e eu era contratada de uma dessas tantas. O trabalho? Simples: cheia dos "hola que tal", entrar em todos os estabelecimentos comerciais existentes, oferecendo a minha empresa. Nada de fixo, mas valendo €25 por contrato fechado, meta de quatro por dia, resultando tipo €2000 por mês. Simples né? Seria. Se tu não tivesse que falar somente com o titular da conta de luz, se 70% das pessoas não estivessem de férias, 10% já não tivessem escolhido outra empresa e 10% não tivessem carga suficiente pra entrar no teu esquema. Os outros 10%? Querem mais é que tu vá pro infierno, "porque solamente robam a nosotros, porque este govierno de mierda y porque la puta madre" e daí pra baixo. Durei um dia e disse "hasta la vista".
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Em seguida, decidi encarar mais uma entrevista, dessa vez para o cargo de promoter nas Ramblas. A vontade de gargalhar na entrevista é enorme. Quando a mocinha avisou que não tinha ganho fixo, que eu tinha que oferecer "tapas y chupitos" e que ganharia €1 por pessoa que fosse até lá, me controlei pra não soltar uma gaitada. Mas veja bem: não basta ir até lá, tapas y chupitos y tal y cosa y cosa y tal e ir embora, tem que consumir, senão, nada de euros. Pra completar, eu era apenas a promoter de número 27 (ah claro, o flyer, com teu número tem que ser entregue, se ele já foi pro lixo e a pessoa foi até lá, não adianta dizer que recebeu daquela chica, muy rica y tal y cosa y cosa y tal, não nada de euros). Mas enchi o peito e encarei, cheia dos "hola que tal". E olha, putaqueospariu, êta gente bem grossa. Jurei, e tenho cumprido com êxito, nunca mais evitar flyers na rua ou pelo menos sorrir e dizer um educadíssimo "gracias". Fiz algumas anotações mentais sobre as diferentes reações das pessoas. Casais de idade são os mais educados (e para esses eu falava em Happy Hour, chupitos nem pensar). Os jovens querem é saber de night e de olhar pra tua bunda. Italianos são os mais simpáticos. Franceses, pegando ou não o flyer, são sempre educados, mas adoram dizer que não te entendem. Ingleses e semelhantes te dizem um "no, thank you" que tu chega a ficar com medo. E orientais fogem de ti assustados como se tu fosse o Satan Goss. Setenta folders depois, vi um único e educadíssimo casal de franceses entrando no lugar. Durei um dia e disse "hasta la vista". E nem peguei meu euro.
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Ontem de manhã recebi um SMS dizendo que meu currículo tinha sido selecionado e me pedindo pra entrar em contato. Não dizia selecionado por quem, nem pra que, mas a otária ligou. Uma vozinha em espanhol disse muy rápido que "el custo de esta chamada bla bla bla no se que más". Quando o carinha do outro lado começou a falar, deletei o "bla bla bla" da cabeça e dei atenção pra ele que parecia interessadíssimo no meu excelente currículo, mas tinha que repassar ele todo por telefone e completar alguns dados. E não, não queria fazer entrevista para agilizar o processo e não, não tinha como eu mandar meu currículo completo por e-mail. Uns dez minutos depois (e espero do fundo do coração que não tenha sido muito mais que dez minutos depois), "muchas gracias, com certeza será muito rápido ter retorno com um currículo desses, adios". Fiquei feliz da vida até me cair a ficha, horas depois, que era golpe. Esses hijos de una puta madre, ganham dinheiro com a tua ligação, são de RH un carajo. Otária. Muito otária. Quando essa conta de telefone chegar... com certeza eu vou lembrar do que dizia o tal do "bla bla bla".
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E pra encerrar essa longa história, hoje de manhã já sem saco nenhum pra nada relacionada a trabalho, recebi um e-mail de alguém que havia recebido meu currículo convidando pra trabalhar em um congresso de cardiologia. Currículo com foto, ó, pelo menos me acharam bonitinha, já é um começo. Liguei pra pedir mais informações e juro que pela primeira vez tive dificuldades de comunicação em espanhol. A pessoa do outro lado por mais de uma vez disse que não conseguia me entender. Falei de novo, bien despacito, e por fim ela chegou a conclusão que eu não servia pro negócio por não ter a tal da porcaria do número de identidade de estrangeiro. No meio da conversa, a cretina me larga "porque yo tambien soy brasileña y bla bla bla". Ah, mas que vaca. Justo uma brasileira não estava me entendendo no telefone? Vá chupar um prego, ou una clava, como preferir.
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E enquanto digitava este post entrou uma mensagem em inglês no meu celular da Lidyana (who?), que estará recrutando amanhã a tarde para o cargo de promoter do Barcelona Party Night. Olha vou dizer uma coisa. Se eu deixar de ir pra praia pra ir neste troço e esta vaca me vier com emprego sem ganho fixo, juro, cago ela a pau . E depois vou pra praia, bem feliz. Porque antes de sair do Brasil, o discurso é "topo qualquer coisa, desde que não afete minha integridade física". Chegando aqui, tu acrescenta nessa frase a tua integridade moral.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Vamos nos permitir

De repente me dei conta que nos dias de semana, cumpro horários em Barcelona. Com raras exceções, quando vejo meu dia foi acordar, ficar no computador até a hora do almoço, voltar pra cá e ficar até o fim do horário comercial brasileiro. O que só pode denotar algum grave distúrbio mental, já que ninguém tá nem um pouco preocupado se eu estou aqui ou se eu estou passeando pela cidade. Tenho que mandar currículos? Tenho, já mandei duzentos, ou mais. Tenho algum trabalho pra fazer? Tenho, e na medida do possível tenho feito todo ele. A angústia de estar ociosa, e claro, de não ter a conta bancária dos meus sonhos nem costas quentes, faz com que eu não me permita simplesmente curtir. Claro que jamais conseguiria ser uma porra louca que gasta o que não tem em agosto pra ver qual é lá em setembro. E estar aqui, pra alguém que não sabe o que é guardar dez pila por mês, já é lucro. Mas nada disso justifica o massacre psicológico que eu mesma tenho me imposto. Ontem no fim da tarde, tinha um compromisso (se é que entregar folders nas Ramblas pode se chamar de compromisso) as sete e meia e eram cinco, quando eu olhei pra essa tela cheia de vectors, corels, currículos, e-mails, orkuts, facebooks e blogs abertos e tive um troço. Não joguei longe o laptop porque não é meu (e porque precisaria usar ele mais tarde por bem ou por mal). Mas fechei tudo, mandei mentalmente a merda e fui pra terraza tomar banho de sol. De topless, pra me sentir ainda mais livre. E esse é o mínimo que eu posso fazer por mim.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Carajo

Num minuto descubro a notícia que me alegra o dia: Show do Jorge Drexler, aqui do lado, em Girona! Mas demoram só mais alguns minutos pra eu murchar: ingressos esgotados. Será que tem cambista na Espanha?


terça-feira, 11 de agosto de 2009

Pra morrer de saudades

Recebi hoje de manhã um e-mail da minha irmã que lê meu blog pros meus afilhados. Ela estava com eles vendo o jogo do Inter e por algum motivo começaram a falar em viajar depois dos trinta. Começa o Marco, o mais velho:

- Depois dos trinta é aquele negócio da dinda, né? O que que é depois dos trinta???

Explica a minha irmã que eu dei esse nome porque tinha acabado de fazer 30 anos quando fiz o blog. E ele continua:


- Quando é o aniver da Dinda?
- Dia 13 de março.
- E a gente não deu presente?
- Sim, deu dinheiro pra ela comprar alguma coisa na Espanha!

Aí o João, o mais novo, interefere:

- E a dinda comprou aqueles sapatinhos engraçados pra passear no parque de diversões!!!

Eles são o melhor presente que a minha irmã já me deu nessa vida. Mesmo que eu não seja uma frequentadora super assídua de Gramado, mesmo que eles achem os meus irmãos muito mais divertidos do que eu, que vivo dando ordens, mesmo que eles façam cara feia quando eu aperto e beijo eles. Sou completamente apaixonada por essas duas figurinhas.

domingo, 9 de agosto de 2009

Divagações de um domingo que já virou segunda

Dez dias de Barcelona. Rá. Dez nada, dez só se for pra vocês. Pra mim parece que tô aqui há pelo menos um mês. A velocidade é outra. A quantidade de coisas que se faz e de gente que se conhece e a falta de uma rotina que faz com que nenhum dia seja igual ao que passou, acabam por definir que o relógio ande em outra velocidade. E essa velocidade se reproduz também na falta que eu sinto das pessoas e das coisas, porque é como se eu já estivesse há um mês longe de tudo que eu tanto adoro. Então por favor: perdoem a minha ansiedade e as minhas declarações de amor e de saudades com apenas dez dias de distância. Deve ser absolutamente normal e a tendência deve ser diminuir (assim espero).
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Os dias foram passando e quando me dei conta eu já estava passando do lado da Casa Batló sem dar a menor bola pra ela. De repente, tu já é de casa. Já conheci uruguaio, argentino, venezuelano e colombiano. Já conversei em espanhol com franceses e italianos. Já dei informações em inglês para chineses, indianos e australianos. Mas ainda assim, cada dia tem um lugar novo pra conhecer, uma foto diferente pra tirar. Ontem mesmo fui num bar com a minha colega de AP que mora aqui há nove anos. O bar fica num bairro que eu nunca tinha ido, apesar de ser aqui do lado, o Poble Sec. E adorei estar no meio de um bairro nada turístico me sentindo uma moradora. Mas chegando no bar, o encanto logo acabou: era de um brasileiro. E foi aí que eu me dei conta que não tem essa de querer fugir de brasileiros, de turistas, de pakistanis. Barcelona pode não ser dessas pessoas, mas são essas pessoas que fazem Barcelona ser o que é. E quer saber? O bar do brasileiro era ótimo!
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E hoje depois de um dia de praia em Sitges, o papo descambou pro dia dos pais que a gente precisava ligar, e pra chuva que não parava de cair em Porto Alegre. E começamos a conversar sobre como seria bom colocar todo mundo no bolso e trazer pra cá pra viver tudo isso junto com a gente. E o quanto as pessoas que ficaram, nem sonham que estão presentes nessa viagem em tempo integral. Cada coisa que a gente vê, ou faz, traz o pensamento de alguém que está lá longe. É ver um livro em quadrinhos de Persépolis e lembrar que quem adora este filme adoraria este livro; cruzar por uma Sephora e lembrar daquela amiga louca por maquiagem; entrar numa loja de camisetas com marcas e trocadilhos, e lembrar daquele amigo que adora essas coisas; passear pela Decathlon e lembrar dos amigos que estão em Machu Pichu; passar nas lojas esportivas e lembrar que tenho que levar camisetas do Barça pros meus irmãos e afilhados; ver milhões de coisas diferentes e ainda assim não fazer ideia do que levar para a minha mãe; sentar pra beber uma sangria e querer todas as minhas amigas ali ao redor; ver as fotos que tirei no dia, e ver o colar que ganhei na minha despedida pendurado no pescoço pra não esquecer de duas amigas, como se fosse possível esquecer pessoas inesquecíveis. E aí sabe o que acontece? Com uma sangria na cabeça depois de uma tarde ao som de Bossa Nova, os olhinhos da figura aqui se enchem de lágrimas. Está ótimo por aqui, mas como boa pisciana, não esqueçam: o corpo veio, mas o coração ficou.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Eu não tô aqui pra sofrer

Quantos limões eu precisaria comer pra descobrir que limão é azedo? Quantas marteladas eu precisaria levar no dedo pra descobrir que uma martelada no dedo dói? E indo direto ao ponto, quantas bolhas eu precisaria fazer nos pés pra saber que entrei em uma roubada?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Camper de mi corazón

Às vezes eu preciso tão pouco pra ficar feliz... nesse caso específico, precisei de €35,00. E pra completar a felicidade do dia, vou passear com ele no Parque de Diversões.
E alguém aí ainda não sabia que eu sou uma criança, num corpo de adolescente, fingindo ser adulta?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Euro

O primeiro queijo brie a um euro a gente nunca esquece.

Donde esta la calle...

Pela primeira vez saí sem mapa e pela primeira vez me perdi. Três vezes. Mas nem sempre é ruim se perder
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Peguei um atalho e sem querer fui parar no CCCB, lugar que eu já deveria ter conhecido há horas. Muita cultura por quase nada e pertinho de casa.
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Decidi pegar outro atalho e esse atalho me levou a Casa Camper. Fiz amizade com o camaronense da recepção que me deixou entrar e conhecer, but no pictures please... um luxo que vale €220 a diária por casal.
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Voltando pra casa, dobrei na rua errada e acabei encontrando com um grupo de nacionalidade duvidosa e meio estranho. Um deles, leu minha camiseta e gritou bem alto: "All you need is love? Bullshit, all you need is sex". E haja autocontrole nessa hora.
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As vezes é bom se encontrar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Anúncios

Arquitecta para trabajo en la Vila Olimpica: OK.
Diseñador grafico: OK.
Repartidora de flyer: OK.
Promotora Vodafone: OK.
Modelo de anuncio de chicas fumando: uhmm, não preciso fumar, OK.
Modelo femenino para fotografia desnudo artistico - anúncio sério: auhmmmm, acho que chega por hoje, né?

La playa

É, a vida tambem é feita de decepções.
Tanto quis ir a praia que fui até Barceloneta mesmo, aqui do lado. E Barceloneta é tipo assim... tá, ia dizer Tramandaí e iam me matar, mas sinceramente pra Tramandaí só falta o mar daqui ser marrom e as mulheres andarem de peito de fora. Em Tramandaí, no caso. Sacolas de plástico voam, pontas de cigarro estão por tudo, e o banho de mar? Água azul, mas com chances de engolir pedaços de sabe Deus lá o que no meio de um mergulho. Sujo, imundo! E lotado, mas aí tudo bem, não é só a belezura aqui que pode ter vontade de ir pra praia num domingo de sol. Mais uma diferença de Tramandaí? Em vez dos nossos queridos nordestinos vendendo vestidinhos, biquínis e óculos de sol, temos orientais (não imaginem uma japa gostosa de biquíni e sim uma senhora baixinha com poucos dentes na boca) oferecendo massagem e pakistanis vendendo "cerveza-coca-água-beer", dito assim mesmo, como se fosse uma palavra única. Pra comer, passaram umas Zamosas servidas num pratinho aberto pra quem quiser tocar. Uhm... acho que espero a minha volta pra comer Zamosas no Ocidente!
Não, não achem que virei fresca depois que pisei aqui, tô longe de ser mulherzinha pra essas coisas, mas pô, to na Europa, esperava um pouquinho mais! Mas sei que bem pertinho daqui tem praias maravilhosas, fim de semana que vem eu descubro uma. É só pegar um trem, um metrô. Pra quem encara uma BR numa sexta-feira a noite pra passar dois dias no Rosa? Moleza. E o sanduichinho natural pra beira da praia, eu levo de casa.

ps: souvenir especial pra quem me ensinar a usar acentos em um teclado americano.

sábado, 1 de agosto de 2009

A arte de não ter nada para fazer

Hoje me presenteei com uma coisa que já deveria ter me presenteado antes: dormir por doze horas. Acordei renovada e cheia de disposição. Pra compensar todo este descanso, caminhei por exatas sete horas por esta cidade. E vou dizer que até não tenho sido uma má companhia. Não reclamo, não canso, uma beleza. Agora, passado o pânico inicial, resolvi descrever um pouco do que tenho visto, vivido e sentido por aqui.

Mi barrio y mi calle
A rua que eu moro é super movimentada e tem absolutamente tudo ao redor. É muito fácil ir dela para as Ramblas, para Grácia, para o Gótico. Na verdade com a minha disposição é muito fácil ir pra qualquer lugar dessa cidade. Até agora só peguei um metrô, de resto? Tudo a pé.

Mi casa
Demorei dois dias pra me sentir em casa numa casa que não é minha. Na verdade, ainda estou sozinha por lá já que a minha parceira está no Brasil, então é fácil me sentir a vontade andando de um lado pro outro, e tal, mas essa moleza já já vai acabar. A terraza fica no nono andar de um edifício não muito antigo que até elevador tem, mas que eu decidi não usar pra endurecer as pernas nesses cinco meses.

La lengua
Surto mental total. Definitivamente as pessoas, próximo tópico, são muito legais. Meu espanhol está algo de outro mundo, e eu consigo puxar até um italiano pra me comunicar. Italiano? E desde quando eu sei falar italiano?

Las personas
De cada 10 pessoas em Barcelona, certamente 5 sao pakistanis (entendo por isso, paquistaneses, indianos, marroquinos, sei lá, são todos iguais). Eles sao donos de todos os mercadinhos e de todos estabelecimentos de internet e locutórios (sujismundos) por aqui. Das 5 pessoas que sobram, umas 3 são turistas e os outros sim devem ser catalães. Até agora, sem dúvida, a pessoa que mais me chamou atenção foi um senhor de barba branca, que pedalava completamente pelado numa das vias mais importantes da cidade, vestindo somente tênis e capacete. Tô longe de ser puritana, mas fiquei tão atormentada com a visão (frontal e posterior, diga-se de passagem) que não tive tempo de sacar a máquina para tirar uma foto.

Los sitios
Fora o que já descrevi ontem, minha caminhada de hoje me levou aos mercados de San Atoni, de la Boqueria e de Santa Catarina, a Catedral Gótica, ao Palau de la Musica Catalana, ao Arco do Triunfo, a Sagrada Família e por fim ao Parque Guell. De lá voltei a pé e pela primeira vez me apaixonei em Barcelona: o bairro de Grácia era o que eu precisava pra me sentir bem aqui. E nao falo só pela parte granfina dele, pelo contrário; falo pelas ruazinhas cheias de árvores e lojinhas e cafés e bares simpáticos e pelas pessoas pela rua arrumando tudo para as festas do bairro que começam em seguida. Lo mejor de Barcelona! Amanhã vou terminar de desbravar o Bairro Gótico, aproveitar a entrada gratuita no Museu Picasso e depois fazer aquilo que acreditem, ainda não fiz: ir para a praia!

Las tiendas
A palavra nao é "rebajas", é "rebaixes" em catalão e ela esta por todas as partes. Mas tenho me feito de louca, nao entro em lojas. Mentira, entrei em todas as Camper que passei. Entrei, olhei, peguei na mão, afofei, babei, larguei e fugi. Decidi que nao vou gastar em pronto. Então tenho passado reto por Calzedonias, Sephoras, etc. Pra que me testar, né? Taí outra das mil coisas a serem aprendidas: autocontrole sobre a minha impulsividade (e noção da minha conta bancária)! Mas não posso deixar de destacar três lugares que entrei, (quase) não gastei e vou voltar antes de ir embora com certeza (além da Camper, claro): Doctor Paper, em Grácia na Carrer de Verdi, lojinha tipo papelaria cheia de coisas com estilo Vintage, Retrô, Pop Art, onde quase comprei uma roda gigante miniatura (mas logo em seguida lembrei que não preciso de uma roda gigante miniatura); Muji, em Grácia, na Rambla Catalunya, lojinha japa onde tudo é clean, tipo transparente ou bege, e onde tem de tudo e onde tu tem vontade de comprar... tudo; e por fim uma paixão antiga, referência pra muitos projetos de arquitetura, Cacao Sampaka, no Eixample, na Consell de Cent, loja de chocolates divinos, onde me presenteei com uma barrinha de €1,80, único gasto do dia fora o litrão de água indispensável nesse calorão aqui.

Fotos e mais fotos assim que recuperar meu rico computadorzinho (obrigada Santo Daniel do meu coração!) aqui: http://picasaweb.google.com/kelenGT