quinta-feira, 29 de março de 2018

Feliz ano novo

Ganhei de aniversário uma daquelas sessões de massagem relaxante. Escolhi fazer ela no dia de hoje pra encerrar não só uma semana mas também um ciclo. Desliguei o telefone e tentei desligar também o cérebro enquanto ouvia músicas melancólicas instrumentais e aquela estranha massageava meu corpo. Foi bem mais fácil manter o celular desligado do que tudo que estava na minha cabeça. Aquele momento desencadeou um turbilhão de pensamentos e sentimentos e em minutos lágrimas escorriam sem esforço algum.
Nos últimos meses por duas vezes vi meu marido ficar doente, receber como diagnóstico doenças de nomes estranhos e ter que fazer exames com nomes assustadores. Por duas vezes pedi em silêncio pra que não fosse nada grave. Por duas vezes fiquei com medo de perder ele. Por duas vezes respiramos juntos aliviados depois.
Nos últimos meses por duas vezes engravidei. Por duas vezes comemoramos ainda que um pouco assustados com a novidade. Por duas vezes a gravidez interrompeu.
Nos últimos meses pensei o quanto deixamos a vida passar sem aproveitar de verdade, sem se entregar, deixando as coisas realmente importantes sempre pra depois. O quanto não nos damos conta que o tempo está voando e que estamos envelhecendo ainda que a gente siga se sentindo eternamente jovens.
Não quer casar não case. Mas se envolva, se permita, ame, se divirta, viaje, ria. A um, a dois, a três, a quantos quiser.
Não quer ter filhos não tenha, mas se quiser, não fique esperando a hora certa, ela não existe. Tente, investigue, congele, ache um parceiro, faça sozinha, faça o que precisar fazer enquanto há tempo. Só não fique esperando a banda passar. Nem sempre ela canta coisas de amor.
E entre risadas do Lucas, latidos das cuscas e móveis que não cabem nos espaços, a gente segue a vida de cabeça erguida porque ela é muito curta pra não ser assim.
Por isso tudo que esse ano vou ressignificar a Páscoa. Ela vai ser aquele momento de recomeçar e acreditar que daqui pra frente tudo vai ficar melhor.
Feliz ano novo!

quarta-feira, 28 de março de 2018

O golpe

- E aí pai, golpe do sequestro então é? E quanto eu tava valendo?
- Nem chegaram a dizer, colocaram uma mulher chorando e me chamando de pai e logo pegaram o telefone.
- E aí?
- Disseram que estavam com a minha filha e eu falei: a Kelen?
[nota da autora: não que eu seja a preferida, mas seria mais fácil eu ser sequestrada em POA do que minha irmã em Gramado]
- Eles disseram que sim e começaram a repetir “Nós vamos matar ela! Nós vamos matar ela!”. Fiquei meio assustado, mas me dei conta que devia ser trote, só disse “Façam o que vocês quiserem”, não falei mais nada e eles desligaram. Pior foi desligar o telefone, ligar correndo pro Guilherme e ele me dizer que tu tinha ido no banco!
Seguindo a semana do orgulho na família, hoje o prêmio vai pro meu pai, Dr. Nelsinho, que não caiu no golpe do sequestro da filha!

segunda-feira, 5 de março de 2018

O ser humano é um case

Pronta para virar a esquerda na Eudoro Berlink saindo da Freire Alemão, paro para dois senhores atravessarem a rua. Um deles, segue imóvel esperando os carros (que, exceto o meu, não existiam) passarem. O outro, vocifera mandando eu passar. Tentando seguir com a gentileza, faço um sinal com a mão para que ele atravesse, enquanto mentalmente penso "aproveita que ainda não tem um corninho atrás de mim buzinando e atravessa de uma vez, meu querido". Além de vociferar, ele passa também a gesticular freneticamente mandando eu andar logo. Dou de ombros e passo ao lado dele que segue me xingando. Olho pelo retrovisor, ambos atravessam.
O ser humano é um case.