terça-feira, 16 de agosto de 2022

Rock in Rio

Foram 40 dias intensos de montagem com direito a um bate volta que mais cortou meu coração do que matou saudades. Fiz parte de um time, e que time. Revi amigos especiais, fiz amigos maravilhosos. Emagreci cinco quilos e fiz as pazes com a academia. Fiz uma tatuagem que escondeu outras duas. Pedalei 180 quilômetros em uma Ceci. Patinei. Corri. Caí. Dirigi muito mais carrinho de golfe do que fui a praia. Comecei e terminei três séries. Usei uma pochete de pompom colorida que parou de gurias da limpeza a blogueiras. Conheci lugares que não conhecia no Rio, essa cidade mágica e caótica que eu amo mesmo as vezes odiando. Quis ir em todos os brinquedos do Rock in Rio e não fui em nenhum. Chorei algumas vezes, de tristeza, de raiva e de emoção. Senti paz e senti saudade. Senti ansiedade e senti orgulho. Conheci alguns limites, meus e dos outros. Aprendi tanto com tanta coisa que me sinto mais completa e preparada como profissional. Também me decepcionei, os bastidores são bem diferentes do palco. Entregamos, mas acabou de começar. Lá atrás me arrependi de pedir a compra da passagem depois da primeira noite, justo a do metal que eu nem gosto. Hoje agradeço a decisão, só quero voltar. Foi incrível, mas agora eu preciso atender os meus cinco clientes preferidos na BOzeira lá de casa.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Ilha da Gigóia

Hoje eu fui passear na Ilha da Gigóia, lugar que eu nunca tinha ouvido falar até vir morar no Rio em 2010. Ela é uma ilha pequenininha, desenhada por inúmeras ruelas estreitas cheias de placas coloridas, grafites e plantas de todos os tipos. Num dia lindo de sol como hoje, fica tomada de pessoas que parecem conhecer cada um que passa. Ela é meio bagunçada, muitas das construções não deixam bem claro se foi finalizada ou não. Tem um boteco em cada canto e armazéns que vendem de tudo, muita birosca misturada com lugares charmosos que algum estrangeiro resolveu abrir. É uma cidade do interior dentro de uma cidade grande, com uma praia logo ali, apaixonante, cheia de cuscos e de vida. Pensei cá comigo: isso é muito a minha cara, ou pelo menos era a cara daquela Kelen lá de 2010... Como é que ela saiu daqui? A verdade é que eu nunca cheguei a entrar! Quando vim morar aqui, depois de pular de casa em casa e muito procurar (ah, Airbnb...), achei um anúncio de uma pousada que aceitava hóspedes por longas temporadas nessa tal ilha que ficava na Barra. E era tudo que eu precisava: um apezinho mobiliado, sem nada pra comprar e por um preço pagável e relativamente perto do trabalho. Peguei meu primeiro barco pra ir conhecer a pousada e pedi somente pra atravessar a lagoa. Ao descer, sem andar muito, perguntei pela pousada Barravento e me disseram: ah, não chega por aqui não, tem que pegar outro barco e pedir pra descer lá. Não entendi, mas aceitei e virei as costas pra ilha sem sequer conhecer. O novo barqueiro me deixou na pousada e foi então que o proprietário me explicou que dali eu não teria acesso a ilha exceto por barco. Uma construção logo atrás dela, fazia com que não houvesse outra saída exceto pela água. Nos meses que se seguiram, sempre peguei meu barquinho direto pro continente, fosse pra trabalhar ou passear. Quis o destino que eu não me apaixonasse por esse lugar e mudasse a minha história. Será? Só posso acreditar que ele, o tal destino, me queria mesmo era em Porto Alegre, pra fazer da minha vida o que ela é hoje. Quantas vezes uma simples decisão pode mudar todo nosso rumo?


"Si nunca paras de buscar, talvez nunca pueda ser encontrado por lo que buscas."

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Folga

Desde que vim passar esse periodo no Rio, a pergunta que mais tenho recebido ultimamente tem sido disparado: "e a saudade?". A resposta sai fácil porque é uma saudade sem medida, ela é gigante, é de ter vontade de entrar na tela e encher de amassos e de beijos. Mas é uma saudade que não dói. Dá pra entender? Porque eu vejo eles todos os dias e eles parecem tão felizes. Saudosos, óbvio, mas felizes da vida! E com meu marido nota dez sendo um pai nota mil somado a uma diarista que virou a santa ajudante de todas as manhãs eles estão dando conta do recado bonito (espero que minhas plantas estejam vivas, viu?). E também porque, e não me julguem por esse trecho, tô com saudade mas numa folga que olha, puta que pariu. Atenção meus empregadores, isso não significa que eu não esteja trabalhando, tô trabalhando tipo bicho. Considerem que vocês me concederam tipo umas férias da família remuneradas, uma espécie de viagem padrão perrengue chique. A real é que não tem montagem que supere o trabalho que é ter uma casa cheia de seres, não tem BO mais difícil que cuidar de uma família, não tem cansaço maior do que um dia inteirinho com um marido, dois filhos e dois cachorros e ainda por cima o tal do trabalho! Desculpa, eu amo vocês, viu marido? Mais que tudo na minha vida todinha, mas dá um trabalho da porra e depois desses dez dias sozinho tenho certeza que ele assina embaixo! Dá tanto trabalho que me vejo volta e meia num não saber o que fazer com o tanto de tempo que eu tenho por aqui mesmo depois de trabalhar oito horas. Dia desses num desses stories, minha irmã fez a tal pergunta. Eu respondi explicando tudo isso e ela resumiu melhor que eu: "eu te entendo, é uma paz com remorso, né?". Ô se é.