domingo, 15 de fevereiro de 2009

O apego

Uma compradora com olhinhos brilhantes passeia pelo meu apartamento olhando com o maior interesse tudo ao redor. De repente para, põe os olhos em um quadro na parede e pergunta: "Bah, gostei muito destas portas, quanto é este?". Devem ter passado uns três segundos e um sorriso para eu responder, "Ah, este não está a venda".
Nesses três segundos, eu desci pela costa espanhola em direção a Tarifa hipnotizada pelas centenas de cataventos que via pelos campos, emoldurados pelo pôr do sol; andei por toda cidade em busca de um quarto para dormir por uma noite, e acabei em um quarto compartilhado com outras duas pessoas que sequer cheguei a ouvir a voz; tudo isso para no outro dia cedinho pegar o ferry boat que atravessaria o estreito de Gibraltar em direção a Tanger, no Marrocos. E nestes mesmos três segundos, cheguei a sentir o vento gelado dessa travessia no meu rosto, assim como toda a mistura de cheiros, cores e sons do mercado. Senti novamente um arrepio na espinha ao lembrar do passeio pela Medina com o guia Abdul por aquelas ruas de pedra, estreitas e sem nenhum movimento, das portas coloridas que davam acesso as Mesquitas e fiquei aliviada por depois de tantas curvas e becos finalmente chegar em uma ruazinha comercial, onde uma nova onda de cores me encantou. E não teria como ir embora daquele lugar sem levar alguma coisa que nunca me deixasse esquecer daquele momento. E então escolhi um camelo de couro costurado a mão e três postais com a imagem de portas coloridas.
Não foi só o quadro na parede que me fez sorrir, mas sim tudo de bom que ele me lembrou. E o lugar dele (e dessa história) vai ser sempre junto de mim. Definitivamente, nem tudo tem seu preço.

Nenhum comentário: