sábado, 13 de março de 2010

Eternamente criança


Quando eu era criança ficava preocupada com qualquer inseto que entrasse no carro, porque eles iam pra muito longe da casa deles e iam acabar se perdendo da família e dos amigos. Tinha também a mania de salvar as minhocas que eu encontrava se debatendo na calçada quente.
Quando eu era criança, arrancava a casquinha de toda e qualquer ferida muito antes dela cicatrizar. E chorava, por qualquer coisa, não só quando caía e me machucava.
Quando eu era criança gastava toda minha mesada bem antes do fim do mês. E não entendia porque a casa da moeda simplesmente não imprimia mais notas e distribuia pras pessoas pobres e pra mim também.
Quando eu era pequena em dia de chuva, ficava na janela vendo a rua lá de baixo encher e tinha muito medo que o mundo acabasse submerso. Nessa época eu morria de medo de injeção, de morcego e da morte.
Quando eu era criança eu sempre deixava a melhor parte da comida pro fim, mesmo que isso significasse comer a massa de panqueca sem o recheio. E nunca sabia escolher uma sobremesa só, tinha sempre que pegar um pedacinho de cada doce disponível pra só então decidir qual era o melhor.
Quando eu era criança mirava em algum lugar pra acertar um alvo nunca sem antes pensar: se eu acertar é porque ele gosta de mim, ou algo parecido com isso. E eu acreditava que um dia ia conhecer o meu príncipe encantado que me faria feliz para sempre.
Quando eu era criança esperava ansiosamente pelo dia do meu aniversário. O que eu não poderia imaginar é que chegaria aos 33 anos e continuaria igualzinha, fazendo todas essas coisas.

Nenhum comentário: