sábado, 16 de outubro de 2010

Síndrome do eterno retorno

Estava sentada sozinha na mesa de um bar esperando uma amiga, quando vi ele se aproximar. Um pouco pela minha miopia, um pouco por ele estar com um corte de cabelo tão diferente, não o reconheci imediatamente. Até ele parar do meu lado com um sorriso gigante e dizer:

- Eu posso saber quem é que está te fazendo esperar desse jeito?

O meu sorriso se transformou em um sorriso tão grande quanto o dele. Aqueles lindos olhos azuis tinham ido parar em um lugar sem acesso da minha memória. Por algum motivo que eu naquele momento não entendia muito bem, não lembrava de ter lembrado da existência dele em nenhum momento da minha vida nos últimos quase dois anos. Conversamos sobre os outros, sobre Chico Buarque, sobre Nietzsche, sobre Whisky, sobre o Rio, evitamos o futebol e falamos sobre a vida:

- E tu, firme com a namorada?
- Sim, firme!
- Que bom!
- E tu?
- Eu sigo firme também, do outro lado! Sempre enfiando os pés pelas mãos.
- Kelen, Kelen. Essa é a Síndrome do Eterno Retorno. É tudo um grande ciclo e quando vemos estamos sempre repetindo os mesmos erros, as mesmas coisas, e ...

E de repente eu lembrei. Como se tivesse sido ontem, eu lembrei. Do quanto eu tinha sido interessante. E do quanto eu havia me transformado em uma pessoa desinteressante sem saber porque. Mas eu sabia sim. Sabia há dois anos, e hoje, repetindo os mesmos erros, sei ainda melhor. E foi por isso que ele foi jogado em um lugar sem acesso da minha memória: porque ele escolheu assim.


- Bem melhor quando são os acertos que se repetem, né?


Nos despedimos ainda sorrindo com um abraço apertado e um sinceríssimo "bom te ver"A história que transbordou na minha cabeça depois do encontro, abriu meus olhos míopes de uma maneira assustadora. Então decidi manter a parte ruim da história naquele mesmo lugar sem acesso da minha memória. Mas trouxe para uma área bem acessível a parte boa, a que eu quero que seja sempre um eterno retorno. Aquela parte que simplesmente dizia "me haces bien".

Nenhum comentário: