domingo, 9 de fevereiro de 2025

Nescau

"Bom dia, mamãe, faz meu nescau?" ou a variante "Posso ver um pouco de tablet?".

Um despertar eestabelecido invariavelmente entre seis e sete da manhã nos últimos dez dias. Faço um exercício qualquer. Como uma coisa qualquer. Arrumo a mochila, preparo dez tipos de lanches [mesmo sabendo que isso não evitará o ataque ao picolezeiro, ou milheiro, ou açaízeiro, ou aos três]. Vem passar protetor. Já escovou os dentes? Para de se mexer. Meu olho! Não foi no olho! Bora, tudo certo? Coloca o cinto! Cadê o chinelo? Volta e pega o chinelo. Coloca Meu abrigo? Não, Cheerleader! Eu quero Várias queixas! Cantamos, e como, e passado um tempo, chegamos. Pego a mochila, a sacola de lanche, e de brinquedos, a barraca, um filho, dois filhos. Cadê a chave do carro? Na polchete, santa polchete. Armo a barraca. Posso ir no mar? Espera a mãe montar o acampamento. Estico a canga, que em três minutos está tapada de areia e tudo bem, pois não ficarei nem cinco sentada [quem dirá deitada] nela. Mamãe! Tô indo. O mar tá uma delícia! Volta, Melissa, perto do teu irmão. Cuidado, Lucas! Picolezeiro, mamãe! Dois picolés e trinta reais a menos depois, que mais tem pra comer? Passam-se horas em um grande looping. Vão tirar a areia, vamos. Eu nem brinquei! Mais quinze minutos! Desarma o acampamento. Deu, vamos. Ah não. Ah sim. Não é justo. Sobe no carro. Mamãe, coloca... não, agora sou eu que escolho! Ah, essa eu gosto. Abençoada casa. Banho, os dois, subam já! Tiro areia de tudo, estendo tudo, lavo tudo, organizo tudo. Parem de brigar, eu vou subir! A Mel que... não interessa! Desçam já! Mamãe, fome. E sede. Pega água no filtro. E pega uma banana. Não é fome de banana. Faço um lanche. Mais fome. Faço dez lanches. Fo... chega! Alimento as cachorras. Vou correr, não se mexam, só respirem! Voltei, tudo certo? Maldita-bendita tela, nem respondem. Vou na piscina. Vou tomar banho. Vou embora! Quê, mamãe? Estão surdos? Faço a janta. Venham. Limpa a boca. Olha o copo! Lavo a louça. Mamãe, quero colinho. E meu leite. Tô indo. Dou cinco minutos de colo, dorme um, dormem dois, carrego um, carrego dois. Desço, desligo tudo. Rua, Dora. Fecho a casa. Subo. Vou ler. Leio meia página, capoto até o próximo pedido de nescau. Tô exausta e já com saudade. Não exijam coerência de uma mãe.



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