domingo, 9 de agosto de 2009

Divagações de um domingo que já virou segunda

Dez dias de Barcelona. Rá. Dez nada, dez só se for pra vocês. Pra mim parece que tô aqui há pelo menos um mês. A velocidade é outra. A quantidade de coisas que se faz e de gente que se conhece e a falta de uma rotina que faz com que nenhum dia seja igual ao que passou, acabam por definir que o relógio ande em outra velocidade. E essa velocidade se reproduz também na falta que eu sinto das pessoas e das coisas, porque é como se eu já estivesse há um mês longe de tudo que eu tanto adoro. Então por favor: perdoem a minha ansiedade e as minhas declarações de amor e de saudades com apenas dez dias de distância. Deve ser absolutamente normal e a tendência deve ser diminuir (assim espero).
.:.
Os dias foram passando e quando me dei conta eu já estava passando do lado da Casa Batló sem dar a menor bola pra ela. De repente, tu já é de casa. Já conheci uruguaio, argentino, venezuelano e colombiano. Já conversei em espanhol com franceses e italianos. Já dei informações em inglês para chineses, indianos e australianos. Mas ainda assim, cada dia tem um lugar novo pra conhecer, uma foto diferente pra tirar. Ontem mesmo fui num bar com a minha colega de AP que mora aqui há nove anos. O bar fica num bairro que eu nunca tinha ido, apesar de ser aqui do lado, o Poble Sec. E adorei estar no meio de um bairro nada turístico me sentindo uma moradora. Mas chegando no bar, o encanto logo acabou: era de um brasileiro. E foi aí que eu me dei conta que não tem essa de querer fugir de brasileiros, de turistas, de pakistanis. Barcelona pode não ser dessas pessoas, mas são essas pessoas que fazem Barcelona ser o que é. E quer saber? O bar do brasileiro era ótimo!
.:.
E hoje depois de um dia de praia em Sitges, o papo descambou pro dia dos pais que a gente precisava ligar, e pra chuva que não parava de cair em Porto Alegre. E começamos a conversar sobre como seria bom colocar todo mundo no bolso e trazer pra cá pra viver tudo isso junto com a gente. E o quanto as pessoas que ficaram, nem sonham que estão presentes nessa viagem em tempo integral. Cada coisa que a gente vê, ou faz, traz o pensamento de alguém que está lá longe. É ver um livro em quadrinhos de Persépolis e lembrar que quem adora este filme adoraria este livro; cruzar por uma Sephora e lembrar daquela amiga louca por maquiagem; entrar numa loja de camisetas com marcas e trocadilhos, e lembrar daquele amigo que adora essas coisas; passear pela Decathlon e lembrar dos amigos que estão em Machu Pichu; passar nas lojas esportivas e lembrar que tenho que levar camisetas do Barça pros meus irmãos e afilhados; ver milhões de coisas diferentes e ainda assim não fazer ideia do que levar para a minha mãe; sentar pra beber uma sangria e querer todas as minhas amigas ali ao redor; ver as fotos que tirei no dia, e ver o colar que ganhei na minha despedida pendurado no pescoço pra não esquecer de duas amigas, como se fosse possível esquecer pessoas inesquecíveis. E aí sabe o que acontece? Com uma sangria na cabeça depois de uma tarde ao som de Bossa Nova, os olhinhos da figura aqui se enchem de lágrimas. Está ótimo por aqui, mas como boa pisciana, não esqueçam: o corpo veio, mas o coração ficou.

Nenhum comentário: