sábado, 16 de agosto de 2025

Vestido verde

Há exatamente um ano escrevi um texto sobre separação.

Abro grandes parenteses pra dizer que escrever foi a forma que encontrei há tempos de tirar emoções de dentro de mim. Perdi o poder da fala pra essas emoções. Se envolver sentimento, eu abro a boca pra falar e choro, seja esse sentimento amor, alegria, tristeza ou raiva. Se envolver intensidade, transbordo. Não que isso deixe de acontecer escrevendo, mas nas palavras escritas, em distância segura das causas, tenho como esconder, disfarçar, reler, repensar. Mantenho um pouco do controle que me angustia tanto perder ao falar.

Fecho parenteses. Dias depois de ser escrito, aquele texto pensado somente pros meus filhos, se transformou em uma ideia de livro. Chamei a Julia pra ilustrar e quando ela me trouxe o primeiro esboço (vendo o qual me lavei chorando), pedi que ela trocasse a minha roupa. "Coloca um vestido verde, longo, solto, acho que desse jeito eu vou ser mais eu". 

O boneco do livro aconteceu. A editoração do livro aconteceu. O financiamento coletivo aconteceu. O lançamento aconteceu. A ideia de livro, virou um livro de verdade. E meu hiperfoco de meses, ali parido, chegou a me jogar num imenso vazio ao atingir o objetivo de existir e de se espalhar por aí.

Hoje, vesti o vestido verde que, sem nem pensar especificamente nele, descrevi pra Julia lá atrás, e fui ler a minha história pra quem estivesse na praça. Gaguejei, me emocionei, me atrapalhei. Tive a participação dos meus dois protagonistas, do livro e da vida, inúmeras vezes, oportunamente ou não. Lembrei porque tanto escrevo ao invés de falar, mas terminei o dia orgulhosa por ter aceitado o desafio de encarar e (tentar) controlar as minhas emoções.

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