Auge do romantismo num sábado. Esquina da Ipiranga com a Borges, eu e ele no carro, chega o cara com seu balde cheio de rosas:
o cara - Vai uma flor aí parceiro?
ele - Não, valeu, ela não tá merecendo.
o cara - Hahaha.
ele - Podemos até trocar, tu me dá esse balde de rosas e fica com ela.
o cara - Hahahahaha.
eu - Isso, vão rindo. Depois vocês levam corno e não sabem porquê!!!
A minha parte eles não acharam muito engraçada.
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Há exatamente um ano vim parar nesse apezinho aqui. Parece que foi ontem que um taxista pra lá de camarada me largou aqui na frente com uma dúzia de sacolas que a mudança não havia trazido, cobrando mais do que devia e me chamando de vagabunda e ordinária só porque pedi dois pila de troco. Um verdadeiro doce aquele homem, que por sinal não me deu o troco. Melhor que ele só a chuva que desabou no momento que ele arrancou o carro. Há um ano que fiquei até as quatro da manhã esvaziando caixas e sacolas, guardando roupas e louças e colocando tudo no lugar, até mesmo os quadros. Sim, já não bastava terem me chamado de vagabunda em frente ao meu novo lar e ainda por cima iam querer que eu dormisse sem meus quadros na parede? Era só o que me faltava. Um ano se passou e tenho ainda mais quinquilharias do que já tinha quando cheguei aqui, mas achando que cada cantinho desse micro lugar onde eu moro tem um pouco de mim e da história desse ano que se passou. E deve ser em respeito àquela noite agitada e ao mesmo tempo vazia que a insônia bateu hoje.
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Em homenagem a este um ano, tenho uma dúzia de rosas num vaso. Não saíram do balde do cara daquela esquina, fui eu mesma que me dei; porque eu tenho certeza que mereço elas, ah se tenho; elas e muito mais.