sexta-feira, 26 de março de 2021

Há muito tempo que ando

Sou uma caminhante. Nasci numa cidade pequena onde até o que é longe é perto e me acostumei a fazer tudo a pé. Sempre que viajo, pouco uso qualquer tipo de meio de transporte, nada como conhecer lugares caminhando. Sou uma apaixonada pelo cotidiano das ruas, pelas artes que habitam nelas. Tenho quilômetros e quilômetros de passadas pelas ruas das cidades que conheci ou vivi. Vim estudar em Porto Alegre há 27 anos e essa acabou se tornando a minha cidade, lugar onde certamente mais pegadas deixei. Independência, Petrópolis, Rio Branco, Auxiliadora, Moinhos, todos os que foram os meus bairros e que a cada nova caminhada me revelam algo que eu nunca havia visto antes. Já cruzei essa cidade das mais variadas formas, nos mais variados horários, nos mais diversos momentos de vida, passos que contam a minha história aqui. Já quis sair correndo daqui, mas voltei correndo também. Portinho tu é minha sina. Saudade de andar livre de verdade pelas tuas ruas. Feliz Aniversário.



segunda-feira, 15 de março de 2021

Cápsula do tempo - um ano de pandemia

Logo no início na pandemia recebi um material chamado "Cápsula do tempo" com atividades pras crianças fazerem relacionadas a esse período. Uma delas era a "Carta dos meus pais" onde a gente deveria escrever pra criança ler sobre esse período no futuro. Sinceramente não sei o que eu teria escrito há um ano atrás quando tudo começou, mas hoje resolvi escrever pra eles.

"Hoje faz um ano que a pandemia entrou pra valer nas nossas vidas. Vocês saíram da escolinha e por um período que pareceu infinito nós ficamos em casa, saindo apenas pro essencial: super, farmácia e o passeio com as cuscas. Música, pintura, livros, desenhos e muita comida feita em casa foram a nossa terapia (que nem sempre funcionou, diga-se de passagem!). Escrevi até um livrinho pra explicar pra vocês o que estava acontecendo. A sacada virou nosso "lá fora" e só abrimos uma exceção depois de quase dois meses quando fomos pra casa da vovó Luiza fazer um churrasco ao ar livre, evento que se repetiu pelos meses seguintes pra comemorar os aniversários da família. Ver vocês correndo incansáveis pelo pátio, o que deveria ser lugar comum na infância, parecia uma dádiva! Lá pelo meio do ano vi uma imagem que dizia que no início tínhamos muito medo e pouca chance de pegar o vírus e justo quando a chance de pegar aumentou muito perdemos o medo. Ou cansamos mesmo. Baixamos um pouco a guarda, visitamos e recebemos algumas pessoas. Longe da nossa vida normal, mas cada encontro nos enchia de felicidade! E assim os meses foram passando. Logo depois do teu aniversário, Lucas, que comemoramos em uma pracinha com alguns poucos amiguinhos, o vírus nos pegou. Foi leve e rápido, vocês nem sentiram. Mas por duas semanas, mais do que qualquer coisa, fiquei com muito medo de ter passado pra alguém, especialmente pros avós de vocês. Depois do contágio, um misto de medo e liberdade tomou conta, sabe? Estávamos teoricamente imunizados por um tempo mas nada havia mudado, o vírus seguia ali, e as máscaras e o álcool gel continuavam sendo nossos parceiros inseparáveis. Ainda que com todos cuidados mantidos, fomos a Gramado, a praia, ao clube, a pracinha. Tivemos o melhor verão possível dentro das possibilidades e eu confesso pra vocês que jamais pensei que seria tudo tão ruim e intenso outra vez, até a vacina já existia! Mas é março de novo e cá estamos nós, em casa, saindo apenas pro essencial, dessa vez com o medo e o risco bem alinhadinhos.
O último ano foi intenso, meus amores, mais ainda com todo um contexto que envolve a política do nosso país que eu prefiro nem comentar (se as coisas não mudarem tanto assim na educação, um dia vocês ainda vão estudar e tentar entender). Passamos muito mais tempo juntos do que jamais pensei que passaríamos. Tem grito, tem choro, tem cansaço. Mas muito mais que isso tem alegria, aprendizado e diversão. Nesse tempo que passou a Mel caminhou, tu desfraldou, o Rafa nasceu. Todos cresceram. Até eu.
Já me perguntei várias vezes como seria sem vocês. Mais fácil? Menos cansativo? Talvez. Mas bem menos leve e com muito menos amor. Olhar pra vocês é o que me faz ter esperança todos os dias. Esperança de que no próximo mês de março que a mamãe tanto ama a gente possa dizer: nem acredito, passou.

sábado, 13 de março de 2021

44 anos

Há um ano marquei um almoço pra comemorar meu aniversário. A pandemia tava batendo na nossa porta mas ainda não fazíamos ideia do que viria pela frente. A primeira amiga que chegou no restaurante me perguntou: Pode abraçar ainda?

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Abro parênteses pra uma confissão: não sou das mais abraçadeiras não. Se puder chegar naqueles eventos com muita gente e dar um oi geral vou ficar mais tranquila. Talvez soe antipático, mas tenho um lado não tão expansiva quanto as vezes possa parecer ser. Mas no meio dessa confissão abro uma exceção: o dia do meu aniversário. Esse foge a regra. Nesse dia adoro festa, seja íntima ou daquelas que tu não consegue parar pra falar com ninguém de tanto que serelepeia de um lado pro outro, mas na chegada do convidado independente do tamanho da comemoração ganha o melhor dos presentes: aquele abraço!
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Voltamos pra 2020. Minha resposta obviamente foi "É claro que sim!". E que saudade daqueles abraços! Claro que alguns poucos até aconteceram no último ano, mas sempre com um pouco de receio, com muito cuidado, não aquele demorado e apertado que aumenta instantaneamente a produção de ocitocina da gente, sabe?
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Hoje ganhei o abraço dos meus maiores amores. E vai ter festa! Ah vai! Vão ser apenas 5 convidados além de mim, inclusas aqui as cuscas na contagem. Mas a pedido do Lucas até temática a festa vai ser. Vai ter bolo, docinho, salgadinho, vai ter decoração feita a mão. Uma delas foi uma espécie de quadro negro que fiz onde deixei um espaço pra colocar o que eu desejo. Já desejei tanta coisa que a lista a princípio pareceu pequena. Vida. Saúde. Amigos. Amor. Paz. Abraços. E foi relendo ela que eu me dei conta do tamanho do meu desejo!