terça-feira, 24 de março de 2020

Quarentena, dia 10

Lucas acorda cedinho, sobe na nossa cama e me encontra sozinha.
- Tu tá dormindo, mamãe? Cadê o papai?
- Tá trabalhando na sala, meu amor.
- Por que o papai não tá trabalhando no trabalho dele?
- Porque a gente precisa ficar em casa, lembra? Vem cá, deixa eu te dar um beijo.
- Para mamãe, beijo dá tosse.
E assim começa nosso décimo dia em casa.

sexta-feira, 13 de março de 2020

Quarenta e três

Essa noite tive insônia. Era um misto de cabeça fervilhando em projetos, cansaço do dia, overdose de notícias e calor. Faltava pouco pra meia noite e decidi agradecer pelos 42 anos que vivi até aqui. Pensei no marido do meu lado, nos pequenos que acabara de beijar nos seus quartos, nas cuscas agitadas pela casa, na família, nos amigos e suspirei sorrindo: é isso o meu maior presente. Quando me dei conta, o Gonzaguinha estava cantarolando no meio dos meus pensamentos. "Eu sei, que a vida podia ser bem melhor (e será)". Que brega, Kelen, pensei comigo mesma. Mas me dei conta que ele canta justamente aquele pensamento que tenho tido repetidamente, de que chega uma hora que precisamos parar de querer sempre mais e agradecermos o quanto já temos e nos darmos conta o quão maravilhoso é. Que venham os 43. E se tiver como ser ainda melhor, que assim seja!
Obs: confesso que o Paulo Ricardo também insistiu em cantar no meu ouvido o seu "olhar 43", mas não renderia tanta filosofia.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Quero colo

Fim do dia, aquele último abraço antes de dormir.
- Me dá um colo, Lucas?
- Mas eu não sou adulto, mamãe!
- Ah, tá bom então.
Passa um tempinho e ele acha a solução.
- Mamãe, depois eu vou ser adulto!
- Bem depois tu vai ser sim, meu amor!
- E tu criança! Aí eu vou poder te dar colo!
Quisera eu que toda frustração tivesse a solução vinda da imaginação de uma criança!