Desde o dia que um filho nasce, uma das frases que mais ouvimos é “cada criança tem seu tempo”. E assim teu filho vai crescendo e tu vai observando como isso acontece com ele.
Mas mesmo com seu próprio tempo, os marcos do desenvolvimento, definidos na pediatria, tem suas faixas aceitáveis. E fora esses marcos, existem ainda os marcos comparativos com outras crianças, inevitáveis especialmente em tempos de redes sociais.
Pois o Lucas decidiu fazer tudo um pouco depois. Firmar a cabeça, rolar, sentar, engatinhar, ficar em pé, e por último - e nada menos importante - caminhar. Tudo acompanhado de perto por pediatras, da família e de fora dela, que nos garantiam aquilo que nossos olhos leigos viam: tá tudo absolutamente normal, é só o tempo dele. Perdi as contas de quantas vezes ouvi estranhos (ou amigos) comentando: ah, ele é dos preguiçosos. E entre ter algum problema e ser preguiçoso, a segunda opção sempre me pareceu muito melhor.
Mesmo com a probabilidade de não ser nada mais grave, foram meses de fisioterapia (onde me deparar com crianças com os mais diversos e sérios problemas me deixava com o coração apertado) e visitas a diversos “istas” da medicina pra que eu garantisse que a opção “problema” estivesse descartada. Visitas quase sempre acompanhadas de diversos exames e infindáveis (e enlouquecedoras) pesquisas no doutor Google. Sempre acompanhadas de noites de insônia pensando o que havia de errado com ele ou ainda o que eu havia feito de errado. Sempre acompanhadas de olhares atravessados para o fato dele não caminhar. E sempre acompanhadas de histories no Instagram mostrando mais um bebê de algum amigo dando seus primeiros passos, às vezes com quase um ano menos que ele, o que só fazia a angústia aumentar.
Até que um belo dia o diagnóstico chegou. Ele não incluía a palavra preguiçoso, mas também não incluía palavras que tanto me tiraram o sono como “degenarativo” ou “incurável”. Pelo contrário, incluía a palavra “benigna” que por si só já era um bálsamo. Poderia praticamente substituir todas as palavras e explicações do médico por “é só o tempo dele”.
Obviamente foi depois da saga pelos campos da medicina (e da Internet) que o Lucas decidiu dar os primeiros passos sozinho. Com 1 ano, 10 meses e 10 dias, quase nos matando de emoção apesar de termos disfarçado como se fosse a coisa menos esperada dos últimos meses, saiu do sofá e veio em minha direção no melhor abraço que ganhei em toda minha vida.
Provavelmente uma das outras frases que mais ouvimos depois que um filho nasce é “aproveita, passa muito rápido”. Pois então, resolvi fazer desse limão uma limonada: tive meu bebê por muito mais tempo.
Feliz dia das crianças. Esses serzinhos mágicos que nos ensinam a cada dia como ser uma pessoa melhor.