Estava almoçando em Gramado e pra variar, por algum motivo qualquer, reclamando do meu namorado. Daí veio a pergunta:
- Vem cá hein, se tu só reclama dele, o que ele tem de bom?
Cabem aqui duas explicações. Uma minha e outra do texto do David Coimbra que meu cunhado me fez ler. A minha é curta e simples: eu sou chata, muito chata. A dele é essa aqui:
"Caminhava entre os ipês do Menino Deus pensando que, realmente, um homem jamais deve usar calça sem bolso, quando um grito estourou no ar límpido da manhã:
- Tu achaca!!!
Olhei para o outro lado da calçada, de onde viera o berro. Um casal que brigava. Ambos descalços, vestidos com trapos, a pele encardida de sujeira. Dois mendigos. Ou moradores de rua. Ou o que o valha. Ele andava um pouco à frente dela, dois ou três passos. Ela tentava alcançá-lo. Ele, de novo:
- Tu achaca!!!
Ela achacava, portanto. E nem tentava defender-se, apenas o insultava:
- Seu WOLFREMBAERHOCKEPROTTE!!!
Mais ou menos isso. Embora o xingasse, corria atrás dele. Ele não diminuía o passo, não olhava para trás, marchava resoluto, repetindo sempre:
- Tu achaca!!!
Era um grito poderoso, indignado, que fazia o dia estremecer. Estava furioso, nem queria conversa com ela, mas ela, via-se, não deixaria que ele se fosse sem uma gorda discussão. Como não gosto de brigas de casal, não esperei pelo desfecho do conflito. Estuguei o passo e segui caminho. Longe, ainda ouvia:
- Tu achaca!!!
Meia hora após chegar em casa, esqueci os dois. Voltei às reflexões sobre o quanto é inadequado calça sem bolso para homens. Passados uns 10 dias, saí para caminhar mais ou menos pelo mesmo local, e quem vejo? Ele e ela. As roupas eram os farrapos de antes, os pés continuavam nus, eles ainda tinham a pele cinzenta de sujeira, tudo igual. Só que diferente. Porque não brigavam mais. Ao contrário: estavam abraçados, andavam lado a lado, conversando. Fiquei feliz ao constatar que haviam se reconciliado. Busquei um ângulo melhor para observar a expressão dos rostos deles. Queria descobrir se estavam alegres realmente, ou se algum deles restava ressentido. Foi então que vi. Ele falava. Com o braço esquerdo, cingia os ombros dela. Com o direito, gesticulava. Contava uma história, acho, e contava com espírito. E ela... ela ria! Ria um riso contente e gostoso, um daqueles risos que vêm do estômago e fazem todo o corpo estremecer e deixam o dia azul e amarelo. Aí entendi por que ela, apesar da raiva da discussão de há 10 dias, corria atrás dele, ansiosa por não deixá-lo fugir. Ele a fazia rir. Um homem, quando consegue fazer uma mulher rir, esse homem, quando parte, ele faz falta a essa mulher."
David Coimbra - A dicussão
É só isso, ele me faz rir. Simples assim.
- Vem cá hein, se tu só reclama dele, o que ele tem de bom?
Cabem aqui duas explicações. Uma minha e outra do texto do David Coimbra que meu cunhado me fez ler. A minha é curta e simples: eu sou chata, muito chata. A dele é essa aqui:
"Caminhava entre os ipês do Menino Deus pensando que, realmente, um homem jamais deve usar calça sem bolso, quando um grito estourou no ar límpido da manhã:
- Tu achaca!!!
Olhei para o outro lado da calçada, de onde viera o berro. Um casal que brigava. Ambos descalços, vestidos com trapos, a pele encardida de sujeira. Dois mendigos. Ou moradores de rua. Ou o que o valha. Ele andava um pouco à frente dela, dois ou três passos. Ela tentava alcançá-lo. Ele, de novo:
- Tu achaca!!!
Ela achacava, portanto. E nem tentava defender-se, apenas o insultava:
- Seu WOLFREMBAERHOCKEPROTTE!!!
Mais ou menos isso. Embora o xingasse, corria atrás dele. Ele não diminuía o passo, não olhava para trás, marchava resoluto, repetindo sempre:
- Tu achaca!!!
Era um grito poderoso, indignado, que fazia o dia estremecer. Estava furioso, nem queria conversa com ela, mas ela, via-se, não deixaria que ele se fosse sem uma gorda discussão. Como não gosto de brigas de casal, não esperei pelo desfecho do conflito. Estuguei o passo e segui caminho. Longe, ainda ouvia:
- Tu achaca!!!
Meia hora após chegar em casa, esqueci os dois. Voltei às reflexões sobre o quanto é inadequado calça sem bolso para homens. Passados uns 10 dias, saí para caminhar mais ou menos pelo mesmo local, e quem vejo? Ele e ela. As roupas eram os farrapos de antes, os pés continuavam nus, eles ainda tinham a pele cinzenta de sujeira, tudo igual. Só que diferente. Porque não brigavam mais. Ao contrário: estavam abraçados, andavam lado a lado, conversando. Fiquei feliz ao constatar que haviam se reconciliado. Busquei um ângulo melhor para observar a expressão dos rostos deles. Queria descobrir se estavam alegres realmente, ou se algum deles restava ressentido. Foi então que vi. Ele falava. Com o braço esquerdo, cingia os ombros dela. Com o direito, gesticulava. Contava uma história, acho, e contava com espírito. E ela... ela ria! Ria um riso contente e gostoso, um daqueles risos que vêm do estômago e fazem todo o corpo estremecer e deixam o dia azul e amarelo. Aí entendi por que ela, apesar da raiva da discussão de há 10 dias, corria atrás dele, ansiosa por não deixá-lo fugir. Ele a fazia rir. Um homem, quando consegue fazer uma mulher rir, esse homem, quando parte, ele faz falta a essa mulher."
David Coimbra - A dicussão
É só isso, ele me faz rir. Simples assim.
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