domingo, 25 de novembro de 2007

Segue o baile

E então, naquela noite chuvosa, ela consegue sair pra dançar.
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Fim de festa, pés doendo, maquiagem derretida, voz rouca, mas alma lavada por ter cumprido a missão de dançar até cansar. Já na porta, bem longe da área da repescagem, o indivíduo bêbado e pegajoso se aproxima:

- Nossa, tu é muito linda, posso falar contigo?
- A essa hora já não é uma boa ideia.
- Como é teu nome?
- Kelen.
- Karen, olha só, então saímos amanhã.
- É Kelen e desculpa, mas a gente não vai sair não.
- Então me dá teu telefone que eu te ligo.
- Não, não, dou não.
- Teu MSN então?
- Não uso.
- Então eu te dou meu telefone e tu me liga.
- Olha só, sério, eu não vou te ligar.
- Mas qual é o teu problema?
- Meu? Nenhum, tô aqui na minha, indo embora, só isso.
- Tu é sapata?
- Hã?
- Sério, tu é sapata?
- Não meu querido, não sou.
- Então gosta de pica, tem certeza disso?

E nesse momento ele conheceu o que ela tem de mais poderoso: o olhar. E esse olhar disse as coisas mais horríveis desse mundo mesmo sem ela abrir a boca e teve o poder de fazer ele finalmente desaparecer.
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E então, naquela noite chuvosa, ela voltou para casa.
Com fama de sapata por querer apenas dançar.

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