Tudo começou em Paris. Chique isso, não? Na verdade vou até abrir um parenteses.
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(O problema de passar dois meses e pouco viajando, é que depois que tu volta parece tudo tão distante e irreal, que às vezes me escuto falando e contando coisas e parece que eu tô sei lá, delirando. "Essa blusa? Comprei em Londres lá no..."; "Nas ciclovias de Barcelona eu andava..."; "Conheci um Australiano em Roma que...". Besteira? Pode ser, mas é a pura realidade. Ou melhor, parece sonho.)
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Parenteses fechados, tudo realmente começou em Paris, há dois meses (viu? delírio! Como assim já faz dois meses?). Estava na casa do Eduardo, quando ele me chamou pra ver a reportagem sobre a escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016. Roubalheira, quantidade de grana que poderia ir pra outras coisas, violência e pouco tempo para tudo que deve ser feito por lá a parte (porque eu sou sonhadora, mas não sou burra), pensei naquela hora em voz alta: o Rio vai ser um bom lugar pra se trabalhar nos próximos anos. E aquela frase dita sem maiores pretensões foi engavetada por uns tempos.
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Porto Alegre, trabalho, rotina, casa, pessoas, decepções, frustrações, ânsia, inquietação. Não eram mais os outros, eu comecei a me achar fora de contexto. Alguma coisa não estava fechando nessa minha volta a vida normal, alguma coisa tinha mudado. E demorou um pouco pra eu me dar conta que a vida não era o problema, ela seguia a mesma, o problema era eu. A eternamente insatisfeita estava adivinhem o que? Insatisfeita. Com tudo. Sentia como se a minha vida tivesse virado um quebra-cabeça que eu não conseguia sequer tirar da caixa pra começar a montar. Cada pecinha que eu ameaçava pegar na mão, acabava jogando longe achando que não era por ali que eu deveria começar. E foi aí que aquela frase dita lá em Paris pulou da gaveta começou a causar uma revolução dentro de mim.
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Abandonei aquele jogo desmontado e gasto e me dei de presente um quebra-cabeça novinho em folha. Cheia de vontade coloquei a primeira peça no lugar. Comecei a gostar tanto da brincadeira que não consegui mais parar de montar. A viagem, a passagem, o trabalho, a casa, o curso, os amigos, o que vai, o que fica, o que eu ganho, o que eu perco. E nesse final de semana eu terminei de montar o quebra cabeça colocando a única peça que faltava, a família.
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Quebra-cabeça montado, agora só falta arrumar as malas. 2010 vai entrar e eu vou estar de braços abertos sobre a Guanabara esperando por ele. Sem passagem de volta marcada. Por enquanto.
"Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar "
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar "
(Samba do Avião - Tom Jobim)
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