sábado, 25 de fevereiro de 2017

Medo

Essa semana um amigo me marcou em uma publicação avisando sobre assaltos no Parcão. Eu, que já ando naturalmente assustada, tripliquei a sensação de insegurança. Hoje fiquei com sérias dúvidas se deveríamos ir ao Parcão com cuscas e Lucas sabendo do abandono da cidade no Carnaval, mas decidimos ir. Sem celular, Guilherme com dinheiro no bolso e só. Fomos para o lado oposto ao Cachorródromo, onde teoricamente teria mais movimento. Sentamos num banco próximo ao lago pra jogar a bolinha pras gurias. De repente vi um sujeito se aproximar. Gelei. Tive certeza que seríamos assaltados, ainda que não visse arma alguma. Ele parou do lado do carrinho que eu embalava, sorriu e perguntou:
- Oi pessoal, saí de casa sem tomar café, sobrou um dinheiro aí?
Sem piscar, respondi:
- Não amigo, saímos sem nada.
Ele deu uma risada irônica e enfiou a cabeça sob a proteção do carrinho. Pegou nas duas mãozinhas do Lucas que acordou assustado. Parei de respirar. Nem eu nem o Guilherme nos movemos. Ele voltou a nos olhar e a perguntar.
- Nada mesmo?
O Guilherme insistiu:
- Nada cara, não trouxemos nada.
Ele voltou a enfiar a cara no carrinho. Dessa vez pegou um dos brinquedos do Lucas que estava pendurado e começou a esfregar na carinha dele e rir. Apesar de mentalmente suplicar "sai de perto do meu filho" continuamos imóveis. Ele se afastou. Em dois segundos eu estava chorando, as cachorras estavam presas e nós estávamos a caminho de casa.
Fico me perguntando, que cidade é essa que não nos deixa mais ir a um parque tranquilamente? Fiquei sem saber se ele tinha alguma arma, se ele apenas tentou nos intimidar, sinceramente não me interessa. Não quero ser abordada desta forma, não quero dar o dinheiro que eu não tenho, não quero sentir medo de sair a noite muito menos a luz do dia. E hoje descobri do que pais são capazes de fazer pra tentar proteger seus filhos: ficamos mudos quando nossa verdadeira vontade é gritar.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Vamos a la playa versão filhos

Ir pra praia com filho é... levar até roupa de inverno pra ele e esquecer metade das coisas pra ti!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Espelho

Fazia calor. No meio da madrugada fiz um coque no alto da cabeça de forma que o prendedor não batesse na cabeceira da cama enquanto amamentava.
Eram 5 e 40 quando o Lucas acordou pela segunda vez e determinou que o dia estava começando. Meu marido deixou meu café servido na cama e foi trabalhar. Enrolei o pequeno na cama até ser vencida por aqueles olhos arregalados. Levantei, conversei de longe enquanto lavava o rosto e me vestia. Fizemos nosso ritual de cada manhã, repleto de conversa, colírio, spray nasal e vitamina. Fomos passear, nós e as cachorras. Carrinho numa mão, guias na outra. Apesar do agito do passeio com elas, ele dormiu. Cheguei em casa pé ante pé pra estender um pouco meu tempo livre. Tentei atualizar currículo e portfólio enquanto cantarolava e embalava com o pé o carrinho. Rapidamente venceu o prazo dele ali. Pedi calma com jeitinho, "por favor, deixa a mãe terminar". Não funcionou. Troquei a fralda, dei de mamar. Dormiu. Ou quase. Não consegui manter ele no berço ou na cadeira de balanço por mais de 10 minutos. Novo passeio, só nós dois, mas dessa vez nem mesmo o trepidar do carrinho funcionou e no café com uma amiga não houve trégua. Voltamos para casa, pegamos as cachorras e lá fomos nós quatro passear outra vez. Cochilou. De volta, voei para o computador para terminar o que havia começado, vai que ele estivesse distraído. O barulho do teclado despertou ele em segundos. Ouvi o choro e lembrei do livro "Crianças francesas não fazem manha" no meu criado mudo. Um pouquinho de choro não vai fazer mal, só até terminar isso aqui e... como se lesse meus pensamentos o choro se tornou mais alto. Como assim deixar chorar? Peguei no colo, troquei a fralda, dei de mamar. A cena anterior se repetiu exatamente da mesma forma no passeio seguinte com as nossas parceiras. Me sentindo culpada por tentar trabalhar ao invés de dar atenção total a ele, me entreguei. Dei um colo bem apertado, segurando ele forte num abraço. Enquanto um braço doía quase adormecido, tive que coçar as costas na porta do armário, mudar de posição estava fora de cogitação. Chovia e a casa ficou numa penumbra tranquila. No Spotify tocava a trilha que fiz justamente para ouvir com ele, cheia de músicas que gosto e sei cantar. Tocou Lulu, tocou Vitor, tocou Marisa, tocou o rei. Cantava e parecia que as letras se uniam pra descrever aquele momento. Veio Legião. Vem cá meu bem, que é bom te ver, o mundo anda tão complicado que hoje eu quero fazer tudo por você. Ele dormiu. Seguimos nossa reunião dançante particular, embalando um ao outro. Dançamos de rosto colado por um tempo que pareceu durar pra sempre. Senti a mãozinha dele tocando meu braço, meu peito. Chorei, num misto de cansaço e emoção. Quis conseguir registrar de alguma forma aquela cena pra nunca esquecer o toque mais suave que meu corpo já sentiu. O pai dele chegou e passei a criança finalmente adormecida para os braços dele. Nos abraçamos exaustos, cada um do seu trabalho diário.
Fui até o banheiro e me olhei no espelho. Os olhos traduziam o dia. E o coque no alto da cabeça feito na madrugada seguia lá.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Os tiros

Ontem a tarde discutíamos sobre a violência em Porto Alegre em um grupo do whats app, falando sobre o ocorrido no Iguatemi, ou nas proximidades dele, não importa. Em meio ao assunto, desci com o Lucas no colo pra ver a feirinha montada em frente ao Ohana na esquina de casa. Voltei entusiasmada e comentei: "feirinha na calçada, sonzinho ao vivo, galera na rua tomando ceva, solzinho de fim de tarde, uma delícia. Chega a não dar pra acreditar que tá tudo do jeito que tá. Pra crise se dá um jeito, mas a gente tinha que conseguir reverter a insegurança. Isso já mudaria 500% nossas vidas". O clima tava tão bom que espiei pela janela lá pelas dez da noite e a galera seguia lá, tanto que desci com as cachorras pra comprar um docinho. Mais ou menos uma hora depois, me apavorei ouvindo uma série de disparos na rua. Olhei da janela para a esquina antes movimentada e no meio do susto agradeci que não tivesse sido ali. Pelos gritos de alguém, percebi que era na esquina oposta.
Falávamos também a tarde que as notícias sobre a violência hoje em dia se espalham muito rápido e com isso espalham pânico e as ruas se esvaziam e os estabelecimentos se fecham e o crime se torna mais fácil e assim segue esse maldito ciclo vicioso. Mas quando a notícia não chega pelas redes sociais e sim pela janela da tua casa, o entusiasmo morre. Sobra só o barulho das sirenes seguido de um silêncio ensurdecedor. E o medo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Sobre a confiança no nosso time

Procuro o resultado do jogo de hoje e comento:
- Ó, ganhamos. Inter um, Fluminense zero.
- Mas é o Fluminense Fluminense, ou o Fluminense de Canguçu?

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Fim do sonho

Aquela hora em que a gente confere os números da Mega, vê que não ganhou e joga fora todo o planejamento financeiro feito com tanto amor durante o dia.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Doutor Google

Sempre que tenho alguma dúvida bizarra a respeito desses seres incríveis (e assustadores) que são os bebês (tipo: a moleira pulsa???) evito ir direto perguntar pro meu pai (pra evitar uma gargalhada). Digito no Google e assim que vejo a mesma pergunta em inúmeros fóruns de mães histéricas e apavoradas me sinto normal e tranquila!