Almoçava sozinha no Galo Cinza (aquele restaurante que conseguiu o que eu julgava impossível em Porto Alegre: mesas coletivas lotadas) justamente em uma mesa coletiva lotada. Ali na pontinha, focada no meu prato e alheia às pessoas ao redor, só percebi que a mesa havia esvaziado e que a pessoa da minha frente havia mudado quando senti o cheiro de peixe recém servido que vinha do prato dele. Busquei minha sobremesa e segui mais um pouco ali sentada, agora focada no meu celular. E confesso: me sentindo até um pouco mal educada por não interagir com outras pessoas justo numa mesa coletiva. Ao levantar os olhos novamente percebi uma mulher ao lado do meu colega de mesa. Saíam faíscas dos olhos dela e algumas delas respingavam em mim. Fiquei pensando “Xi...ela tá com ciúmes por ele estar sozinho numa mesa almoçando na frente de uma mulher”. Será? Gente louca... Em meio a olhares fulminantes direcionados para nós dois e ao “bla bla bla almoçando acompanhado bla bla bla como tu tem coragem” só ouvia ele responder “eu não estou acreditando”. Tive certeza: sim, ela está com ciúmes. Foquei no meu sagu, enquanto lembrava o quanto eu tava toda desgrenhada, com cada unha de um tamanho, sem nem um batonzinho - já diria minha mãe. Cara, e essa mulher conseguiu sentir ciúmes! Sério, gente louca! Finalmente ouvi o típico “depois a gente conversa, vou me servir”. Ele balançou a cabeça, me olhou pela primeira vez durante todo almoço e suspirou:
- Onze anos de casados!
- E ela ficou com ciúmes...
- Dá pra acreditar?
- Dá sim, eu sou igual. (faço parte dessa gente louca...)
- E ela ficou com ciúmes...
- Dá pra acreditar?
- Dá sim, eu sou igual. (faço parte dessa gente louca...)
Fui embora certa de que gaúcho não tá mesmo preparado pra mesa coletiva. Imagina se eu tivesse interagindo!
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