Chamei um Uber a pouco. Assim que aceitou a viagem, a motorista enviou uma mensagem "meu gurizinho está junto comigo, algum problema?". Respondi automaticamente: "nenhum". Assim que ela chegou vi que o gurizinho era mais velho, sentava no banco da frente, diferente da cadeirinha de criança que eu já visualizava do meu lado e que ainda assim não teria me causado incômodo. Victor, o gurizinho, não seria nem percebido por mim, totalmente escondido pelo encosto do banco do alto dos seus 11 anos. Mesmo eu já tendo respondido que não tinha problema, ela se desculpou, explicou o feriadão na escola e que ela não podia ficar sem trabalhar. Falei que ela tava falando de mãe pra mãe, não teria como eu não entender! Mas perguntei se ela já tinha recebido algum não. "Vários!". Viagens canceladas e até mesmo a resposta de uma pessoa dizendo que não se sentiria a vontade. Tá certo, é um direito da pessoa. Mas fala sério, quanto táxi fedendo a cigarro ou motorista escroto tu já pegou na vida que tu não te sentiu a vontade mas encarou? Quase perguntei sobre o pai, mas não ousei. Se ele existe, ainda assim o papel de ficar com o gurizinho tende a ser da mãe. O que custa ajudar essa mãe?
Isso aconteceu hoje, no mesmo dia que li as enxurradas de críticas à jornalista da Globonews com uma fala pra lá de machista em relação a futura primeira dama e suas funções. Ah, colega, quer falar do papel dela fala, mas depois não vem criticar os brados do "imbroxável", talkei? O título "primeira dama" pode parecer pomposo mas estamos em 2022 e não em um episódio de Bridgerton (salve Eloise!). Olha. Não é moleza ser mulher. Não é moleza provar a nossa capacidade todo santo dia, assumindo os nossos papéis de praxe perante a sociedade e batalhando por todos os outros que efetivamente queremos e podemos assumir.
Escrevo isso diretamente de um café onde a senha é o título desse post. Certeza que muita gente achará ridícula, coisa de feminista. Ou ainda nem vai entender a relação dela com os outros dois assuntos do texto. Coisa de gente que não entende a força que a gente precisa fazer pra mostrar a força que a gente tem.
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