terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Nos trinta

De antes dos meus dez anos, minha memória fotográfica registrou que nasci parecendo um joelho e que usava um vestido vermelho no meu aniversário de um ano. Minha memória real mais remota lembra que ia de Kombi para o Jardim de infância e congelava na parada de ônibus já na primeira série. Da casa velha, lembro da vez que deixei minha irmã cair da sacada brincando de gata-cega. Da casa nova, lembro da árvore da taipa, do galpão, da horta, da plantação de moranguinhos, do pé de araçá, de todos os cachorros que tive, da rua fechada nos finais de semana, de rolar no gramado de casa morro abaixo. Lembro de quando deixei de ser a caçula para dar a vez para ao mais novo integrante da família. E depois a mais um. Acho que a partir daí dei uma crescidinha.
Dos meus 10 aos 20 anos, sei que antes de virar uma típica adolescente, era praticamente um gurizinho que brincava de polícia e ladrão pelo colégio. E mesmo depois disso, não fui das adolescentes mais típicas. Festa de 15 anos e Baile de Debutantes passaram reto por mim; tão reto quanto era meu corpo inteirinho. E quando esse gurizinho começou a perceber que era uma mulherzinha, descobriu que essa parte era muito mais complicada. De Gramado ao Internato, do Internato a Faculdade, dos 49 aos 63 quilos.
Nos meus 20 anos virei gente grande. Formatura, independência e falência vieram quase que simultaneamente. Descobri o que é sofrer, o que é perder, o que é cair, e o que é levantar porque lá do chão nada pode ser feito. Descobri que o meu caminho é definido por mim, por mais pedras, curvas ou atalhos que coloquem na minha frente. Sabendo disso, descobri também o que é lutar, conquistar e crescer.

Hoje, a árvore da taipa já caiu, a casa não tem mais galpão nem pé de araçá, e o morro que eu rolava me parece bem menor. Essa mulher aqui, não é tão gente grande assim, e tem uma mulherzinha e um gurizinho guardados dentro dela. Graças a eles dois, nos meus trinta, só quero viver. E se eu fizer isso bem feito, já está de bom tamanho.

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