Não pude fazer nada. Um turbilhão de palavras veio vindo sem avisar.
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No mesmo dia em que cancelaram meu curso, eu tinha uma entrevista de emprego marcada (numa padaria, não se iludam). Brinquei que o padeiro decidiria minha vida. Se ele me quisesse eu ficava, se não, eu voltaria. Mas à noite, depois da entrevista e antes da resposta do padeiro, no exato momento em que o Coldplay cantava "Viva la Vida" eu soube que em breve estaria em casa.
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Sabe quando os médicos dizem aquela frase: nós fizemos tudo que estava ao nosso alcance? Pois é. Eu fiz tudo que estava ao meu alcance. Milagres eu ainda não aprendi a fazer.
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A partir deste dia Barcelona se transformou pra mim. Eu passei a ser uma pessoa de férias que curtia aquela cidade incrível da maneira que ela merecia ser curtida. Eu andava pela rua sorrindo, eu fui pro Parque Guell e me joguei nos bancos de Gaudi, eu bebi champanhe no meio da rua e comprei um óculos falsificado de um senegalês, eu pedalei de uma ponta a outra da cidade, eu me estiquei na praia em plena segunda-feira. Eu vivi e senti pela primeira vez Barcelona.
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As pessoas definitivamente perderam a noção. Não tenho outra explicação. Who let the dogs out?
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Definida minha volta, defini também que precisava aproveitar a Europa antes de voltar. Enlouquecidamente comecei a acessar todos os sites de passagens low cost, fazendo um roteiro que começava na Itália e terminava em Amsterdam, naquela velha corrida pra qual eu tinha me inscrito há meses. Seis países, trinta dias, uma mochila, alguns euros e deu. Tava de bom tamanho.
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A história que as tais das melancias se acomodam com o andar da carroça é a mais pura realidade. Mas tem que deixar bem claro que existem perdas significativas de algumas melancias nessa acomodação!
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Ah, a Itália. Entrei nos meus cartões postais preferidos. Mesmo tendo no meu vocabulário no máximo umas dez palavras em italiano adorava fazer mil perguntas em qualquer língua (pois de qualquer jeito eles iam me responder em italiano mesmo) só pra escutar eles parlando e pra ver aquela gesticulação exagerada tão familiar. E depois da explicação onde conseguia captar meia dúzia de a destra ou a sinistra, seguia a diante dizendo grazie e sorrindo pra todos os lados (deve ter sido o fato de estar lendo "Budapeste" nesta parte da viagem o que me fez ficar tão encantada com esse negócio da língua de cada lugar). Encontrei uma amiga querida em Milão; caminhei sob sol e sob chuva por toda Cinque Terre (e perdi todas as minhas fotos); ignorei quem me disse que Pisa só tinha a torre e não valia a parada e fui a Pisa só pra ver a torre; arrumei uma guia chilena em Luca; acabei em Roma só porque não consegui lugar pra dormir em Siena; fui duas vezes ao Vaticano pra conseguir entrar na capela Sistina e achei tão sem graça que achei que não tinha entrado no lugar certo; vi o entardecer mais lindo da viagem em Florença; voltei a Siena pra subir e descer por todas aquelas ruas de dia e sem mochila nas costas; dormi num trem a caminho de Veneza; me arrepiei assim que pus os pés naquele lugar; me apaixonei por Burano; chorei na Piazza San Marco com uma Italianada tocando um "New Yok, New York" que mais parecia uma tarantela; peguei o trem errado e acabei em Padova tendo uma conversinha com Santo Antônio; fechei a Itália com chave de ouro em Verona, cidade que entrou no roteiro por acaso mas que valeu cada minuto do dia passado lá. Ainda que os italianos realmente sejam uns grossos (e justifiquem o sangue que corre aqui dentro) meu coração hoje é mais feliz por ter finalmente pisado naquela terrinha.
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Sabe quando acontece uma coisa ruim que lá no fundo é uma coisa boa? Pena que a gente demora um pouco pra se dar conta disso.
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O que me levou a Verona foi a passagem de 15 euros que partia de lá em direção a Londres. E quer saber? Londres também não era meu sonho de consumo. Era só aquela cidade fria e cinzenta onde anoitece cedo mas que mais dia ou menos dia eu teria que conhecer. E Londres tinha tudo pra se dar mal comigo já que eu chegaria lá depois da Itália, esse sim meu sonho de consumo. Grande engano o meu. Talvez tenha sido minha baixa expectativa que tenha feito eu me apaixonar. Ou o céu cor de rosa com que ela me recebeu. Pode também ter sido culpa dos maravilhosos museus e galerias (com entrada gratuita) que visitei. Ou será que foram aqueles parques verdes e imensos lotados de esquilos? Não, acho que foi aquela gente toda correndo e pedalando e passeando com seus cachorros por eles. Mas será que eu já tinha me apaixonado antes de enlouquecer em Camden Town? Acho que já, mais ou menos naquela hora em que entrei em uma única hora em mais de 20 lojas sensacionais de livros e de design em Covent Garden depois de ter sido apresentada a culinária Taiwanesa no So-ho. Não sei. Mas selei meu amor por Londres fotografando a London Eye e o Big Ben por todos os ângulos; ficando embasbacada com a educação daquela gente; me deslumbrando com a sinalização da cidade que beira a perfeição; tomando os sucos ou vitaminas de todos os sabores oferecidos a cada esquina, lado a lado com kits de sushis prontíssimos pra serem devorados ali mesmo ou no parque mais próximo; desbravando a cidade caminhando sem parar, evitando até mesmo o maravilhoso tube só pra poder ver e sentir mais aquele lugar. Foram mais de 12 horas de caminhada por dia naquela cidade pra qual ainda não achei as palavras certas. Ela pulsa. Ela emana energia. Ela vibra. Ela me ganhou. Nem o hostel imundo instalado ao lado de um cemitério, onde dormi na primeira noite me fez mudar de ideia. Nem eu quase ter de virar de cabeça pra baixo pra conseguir me localizar nos mapas das paradas de ônibus (e ainda assim acabar parando na parada errada) me fez mudar de ideia. Nem eu ter que repetir a palavra Greenwich em todas as pronúncias que consegui inventar mais de três vezes pra cada pessoa pra quem pedi informação (tendo escutado What? em todas essas vezes) me fez mudar de idéia. Li num livro uma frase que talvez defina o que senti por Londres: "Quando um homem está cansado de Londres , é porque está cansado da vida; pois em Londres temos tudo que a vida pode oferecer."
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Pra mim uma das maiores lições de uma viagem feita sozinha foi aprender a não me culpar tanto por tudo que acontece na minha vida. Numa viagem assim, tudo que der certo é mérito teu, logo, tudo que der errado obrigatoriamente vai ser culpa tua também. Não tem quem culpar, não tem quem xingar, não tem em quem descarregar. É assumir e entender que ... shits happen all the time.
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Cheguei em Paris aos frangalhos. Londres sugou cada uma das forças que existia neste corpo. Cheguei na casa do amigo que me hospedaria numa gelada noite de sexta-feira, abri a janela da sacada, olhei a Torre Eiffel iluminada e me dei por satisfeita; tudo que eu queria era me deitar por horas. No outro dia, uma manhã de sábado não menos gelada, fiz um tour de scooter por toda a cidade e me senti dentro de um filme a cada monumento, museu ou igreja que passava. Mas faltavam forças pra encarar aquela cidadezona. Foi aí que o Eduardo me olhou e disse: Take it easy. Era verdade; eu tava de férias, eu precisava relaxar. Durante os três dias que se seguiram passei boa parte das manhãs em casa, vendo a chuva cair lá fora sem pressa pra nada. Repensei a vida, repensei a viagem. Cometi o ato (visto como insano por alguns) de cancelar minha ida a Grécia e voltar mais cedo pra Barcelona. Como explicar isso? Que eu estava enjoada de mim? Cansada da mochila, das roupas, do mesmo all star, de trocar de hotel, de falar sozinha? Então decidi não explicar. Até porque ia ser mais difícil ainda complementar dizendo que o simples fato de comprar a passagem Paris / Barcelona, me gerou uma felicidade tão grande que aí sim acabei criando forças pra me entregar à cidade de Amelie. Não me apaixonei, confesso. Talvez pelo cheiro de xixi em todos os metrôs. Talvez por ter sido quase atropelada numa faixa de segurança com o sinal fechado. Talvez por estar cansada demais. Talvez por Londres ter conquistado meu coração dias antes. Ou talvez pelo simples fato de estar na cidade do amor sem o tal do amor.
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Comecei a ler o livro Devagar na viagem. E chegava a ser engraçado. Lia sobre ser mais devagar à noite e no outro dia estava correndo ensandecidamente por alguma cidade pra não perder um trem. Lia sobre Slow Food no trem e logo depois almoçava sem parar de caminhar nem pra dar uma mordida. A velocidade é boa mas tem seu preço. Comecei a dar mais valor pra esse livro justamente em Paris, no último dia, quando decidi fazer tudo que não tinha feito até então, caminhando sem parar e indo a todos os lugares que faltavam e também aos que sequer estavam no roteiro. Cheguei em casa exausta, com o corpo dolorido, a cabeça explodindo e o estômago ardendo. Eu estava na cidade luz mas terminei meu dia num quartinho escuro, de olhos fechados, esperando todas aquelas dores saírem de mim. Take it easy, Kelen, já esqueceu?
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O surpreendente foi chegar em Barcelona, lugar que eu ficaria uma semana descansando antes de passar meu último final de semana entre Bruxelas e Amsterdam e realmente me sentir em casa com aquela cidade ensolarada sorrindo pra mim. Mas aquela sensação fez com que me desse conta que eu queria mais que aquilo. Que eu realmente queria ir pra casa. Que nem uma criança que tá na casa da amiguinha brincando e se divertindo e de repente sem mais nem menos joga a Barbie longe porque cansou de brincar. Será que é possível cansar de brincar? É sim. E dois dias depois, eu embarcava no vôo que me traria a Porto Alegre.
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E quase duas semanas depois de chegar, finalmente me sinto em casa, com direito a pequenas doses de tudo de bom que minha vida em Porto Alegre sempre me apresentou. Eu precisava era disso: uma overdose dessas coisas todas! Fora de contexto o c******, tô bem aqui ó, bem no meu lugar. Se aconteceram também coisas ruins nos últimos dias? Ah, Kelen. Take it easy. Shits happen all the time. Ainda não aprendeu?
No mesmo dia em que cancelaram meu curso, eu tinha uma entrevista de emprego marcada (numa padaria, não se iludam). Brinquei que o padeiro decidiria minha vida. Se ele me quisesse eu ficava, se não, eu voltaria. Mas à noite, depois da entrevista e antes da resposta do padeiro, no exato momento em que o Coldplay cantava "Viva la Vida" eu soube que em breve estaria em casa.
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Sabe quando os médicos dizem aquela frase: nós fizemos tudo que estava ao nosso alcance? Pois é. Eu fiz tudo que estava ao meu alcance. Milagres eu ainda não aprendi a fazer.
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A partir deste dia Barcelona se transformou pra mim. Eu passei a ser uma pessoa de férias que curtia aquela cidade incrível da maneira que ela merecia ser curtida. Eu andava pela rua sorrindo, eu fui pro Parque Guell e me joguei nos bancos de Gaudi, eu bebi champanhe no meio da rua e comprei um óculos falsificado de um senegalês, eu pedalei de uma ponta a outra da cidade, eu me estiquei na praia em plena segunda-feira. Eu vivi e senti pela primeira vez Barcelona.
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As pessoas definitivamente perderam a noção. Não tenho outra explicação. Who let the dogs out?
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Definida minha volta, defini também que precisava aproveitar a Europa antes de voltar. Enlouquecidamente comecei a acessar todos os sites de passagens low cost, fazendo um roteiro que começava na Itália e terminava em Amsterdam, naquela velha corrida pra qual eu tinha me inscrito há meses. Seis países, trinta dias, uma mochila, alguns euros e deu. Tava de bom tamanho.
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A história que as tais das melancias se acomodam com o andar da carroça é a mais pura realidade. Mas tem que deixar bem claro que existem perdas significativas de algumas melancias nessa acomodação!
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Ah, a Itália. Entrei nos meus cartões postais preferidos. Mesmo tendo no meu vocabulário no máximo umas dez palavras em italiano adorava fazer mil perguntas em qualquer língua (pois de qualquer jeito eles iam me responder em italiano mesmo) só pra escutar eles parlando e pra ver aquela gesticulação exagerada tão familiar. E depois da explicação onde conseguia captar meia dúzia de a destra ou a sinistra, seguia a diante dizendo grazie e sorrindo pra todos os lados (deve ter sido o fato de estar lendo "Budapeste" nesta parte da viagem o que me fez ficar tão encantada com esse negócio da língua de cada lugar). Encontrei uma amiga querida em Milão; caminhei sob sol e sob chuva por toda Cinque Terre (e perdi todas as minhas fotos); ignorei quem me disse que Pisa só tinha a torre e não valia a parada e fui a Pisa só pra ver a torre; arrumei uma guia chilena em Luca; acabei em Roma só porque não consegui lugar pra dormir em Siena; fui duas vezes ao Vaticano pra conseguir entrar na capela Sistina e achei tão sem graça que achei que não tinha entrado no lugar certo; vi o entardecer mais lindo da viagem em Florença; voltei a Siena pra subir e descer por todas aquelas ruas de dia e sem mochila nas costas; dormi num trem a caminho de Veneza; me arrepiei assim que pus os pés naquele lugar; me apaixonei por Burano; chorei na Piazza San Marco com uma Italianada tocando um "New Yok, New York" que mais parecia uma tarantela; peguei o trem errado e acabei em Padova tendo uma conversinha com Santo Antônio; fechei a Itália com chave de ouro em Verona, cidade que entrou no roteiro por acaso mas que valeu cada minuto do dia passado lá. Ainda que os italianos realmente sejam uns grossos (e justifiquem o sangue que corre aqui dentro) meu coração hoje é mais feliz por ter finalmente pisado naquela terrinha.
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Sabe quando acontece uma coisa ruim que lá no fundo é uma coisa boa? Pena que a gente demora um pouco pra se dar conta disso.
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O que me levou a Verona foi a passagem de 15 euros que partia de lá em direção a Londres. E quer saber? Londres também não era meu sonho de consumo. Era só aquela cidade fria e cinzenta onde anoitece cedo mas que mais dia ou menos dia eu teria que conhecer. E Londres tinha tudo pra se dar mal comigo já que eu chegaria lá depois da Itália, esse sim meu sonho de consumo. Grande engano o meu. Talvez tenha sido minha baixa expectativa que tenha feito eu me apaixonar. Ou o céu cor de rosa com que ela me recebeu. Pode também ter sido culpa dos maravilhosos museus e galerias (com entrada gratuita) que visitei. Ou será que foram aqueles parques verdes e imensos lotados de esquilos? Não, acho que foi aquela gente toda correndo e pedalando e passeando com seus cachorros por eles. Mas será que eu já tinha me apaixonado antes de enlouquecer em Camden Town? Acho que já, mais ou menos naquela hora em que entrei em uma única hora em mais de 20 lojas sensacionais de livros e de design em Covent Garden depois de ter sido apresentada a culinária Taiwanesa no So-ho. Não sei. Mas selei meu amor por Londres fotografando a London Eye e o Big Ben por todos os ângulos; ficando embasbacada com a educação daquela gente; me deslumbrando com a sinalização da cidade que beira a perfeição; tomando os sucos ou vitaminas de todos os sabores oferecidos a cada esquina, lado a lado com kits de sushis prontíssimos pra serem devorados ali mesmo ou no parque mais próximo; desbravando a cidade caminhando sem parar, evitando até mesmo o maravilhoso tube só pra poder ver e sentir mais aquele lugar. Foram mais de 12 horas de caminhada por dia naquela cidade pra qual ainda não achei as palavras certas. Ela pulsa. Ela emana energia. Ela vibra. Ela me ganhou. Nem o hostel imundo instalado ao lado de um cemitério, onde dormi na primeira noite me fez mudar de ideia. Nem eu quase ter de virar de cabeça pra baixo pra conseguir me localizar nos mapas das paradas de ônibus (e ainda assim acabar parando na parada errada) me fez mudar de ideia. Nem eu ter que repetir a palavra Greenwich em todas as pronúncias que consegui inventar mais de três vezes pra cada pessoa pra quem pedi informação (tendo escutado What? em todas essas vezes) me fez mudar de idéia. Li num livro uma frase que talvez defina o que senti por Londres: "Quando um homem está cansado de Londres , é porque está cansado da vida; pois em Londres temos tudo que a vida pode oferecer."
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Pra mim uma das maiores lições de uma viagem feita sozinha foi aprender a não me culpar tanto por tudo que acontece na minha vida. Numa viagem assim, tudo que der certo é mérito teu, logo, tudo que der errado obrigatoriamente vai ser culpa tua também. Não tem quem culpar, não tem quem xingar, não tem em quem descarregar. É assumir e entender que ... shits happen all the time.
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Cheguei em Paris aos frangalhos. Londres sugou cada uma das forças que existia neste corpo. Cheguei na casa do amigo que me hospedaria numa gelada noite de sexta-feira, abri a janela da sacada, olhei a Torre Eiffel iluminada e me dei por satisfeita; tudo que eu queria era me deitar por horas. No outro dia, uma manhã de sábado não menos gelada, fiz um tour de scooter por toda a cidade e me senti dentro de um filme a cada monumento, museu ou igreja que passava. Mas faltavam forças pra encarar aquela cidadezona. Foi aí que o Eduardo me olhou e disse: Take it easy. Era verdade; eu tava de férias, eu precisava relaxar. Durante os três dias que se seguiram passei boa parte das manhãs em casa, vendo a chuva cair lá fora sem pressa pra nada. Repensei a vida, repensei a viagem. Cometi o ato (visto como insano por alguns) de cancelar minha ida a Grécia e voltar mais cedo pra Barcelona. Como explicar isso? Que eu estava enjoada de mim? Cansada da mochila, das roupas, do mesmo all star, de trocar de hotel, de falar sozinha? Então decidi não explicar. Até porque ia ser mais difícil ainda complementar dizendo que o simples fato de comprar a passagem Paris / Barcelona, me gerou uma felicidade tão grande que aí sim acabei criando forças pra me entregar à cidade de Amelie. Não me apaixonei, confesso. Talvez pelo cheiro de xixi em todos os metrôs. Talvez por ter sido quase atropelada numa faixa de segurança com o sinal fechado. Talvez por estar cansada demais. Talvez por Londres ter conquistado meu coração dias antes. Ou talvez pelo simples fato de estar na cidade do amor sem o tal do amor.
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Comecei a ler o livro Devagar na viagem. E chegava a ser engraçado. Lia sobre ser mais devagar à noite e no outro dia estava correndo ensandecidamente por alguma cidade pra não perder um trem. Lia sobre Slow Food no trem e logo depois almoçava sem parar de caminhar nem pra dar uma mordida. A velocidade é boa mas tem seu preço. Comecei a dar mais valor pra esse livro justamente em Paris, no último dia, quando decidi fazer tudo que não tinha feito até então, caminhando sem parar e indo a todos os lugares que faltavam e também aos que sequer estavam no roteiro. Cheguei em casa exausta, com o corpo dolorido, a cabeça explodindo e o estômago ardendo. Eu estava na cidade luz mas terminei meu dia num quartinho escuro, de olhos fechados, esperando todas aquelas dores saírem de mim. Take it easy, Kelen, já esqueceu?
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O surpreendente foi chegar em Barcelona, lugar que eu ficaria uma semana descansando antes de passar meu último final de semana entre Bruxelas e Amsterdam e realmente me sentir em casa com aquela cidade ensolarada sorrindo pra mim. Mas aquela sensação fez com que me desse conta que eu queria mais que aquilo. Que eu realmente queria ir pra casa. Que nem uma criança que tá na casa da amiguinha brincando e se divertindo e de repente sem mais nem menos joga a Barbie longe porque cansou de brincar. Será que é possível cansar de brincar? É sim. E dois dias depois, eu embarcava no vôo que me traria a Porto Alegre.
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E quase duas semanas depois de chegar, finalmente me sinto em casa, com direito a pequenas doses de tudo de bom que minha vida em Porto Alegre sempre me apresentou. Eu precisava era disso: uma overdose dessas coisas todas! Fora de contexto o c******, tô bem aqui ó, bem no meu lugar. Se aconteceram também coisas ruins nos últimos dias? Ah, Kelen. Take it easy. Shits happen all the time. Ainda não aprendeu?
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