Logo no início na pandemia recebi um material chamado "Cápsula do tempo" com atividades pras crianças fazerem relacionadas a esse período. Uma delas era a "Carta dos meus pais" onde a gente deveria escrever pra criança ler sobre esse período no futuro. Sinceramente não sei o que eu teria escrito há um ano atrás quando tudo começou, mas hoje resolvi escrever pra eles.
"Hoje faz um ano que a pandemia entrou pra valer nas nossas vidas. Vocês saíram da escolinha e por um período que pareceu infinito nós ficamos em casa, saindo apenas pro essencial: super, farmácia e o passeio com as cuscas. Música, pintura, livros, desenhos e muita comida feita em casa foram a nossa terapia (que nem sempre funcionou, diga-se de passagem!). Escrevi até um livrinho pra explicar pra vocês o que estava acontecendo. A sacada virou nosso "lá fora" e só abrimos uma exceção depois de quase dois meses quando fomos pra casa da vovó Luiza fazer um churrasco ao ar livre, evento que se repetiu pelos meses seguintes pra comemorar os aniversários da família. Ver vocês correndo incansáveis pelo pátio, o que deveria ser lugar comum na infância, parecia uma dádiva! Lá pelo meio do ano vi uma imagem que dizia que no início tínhamos muito medo e pouca chance de pegar o vírus e justo quando a chance de pegar aumentou muito perdemos o medo. Ou cansamos mesmo. Baixamos um pouco a guarda, visitamos e recebemos algumas pessoas. Longe da nossa vida normal, mas cada encontro nos enchia de felicidade! E assim os meses foram passando. Logo depois do teu aniversário, Lucas, que comemoramos em uma pracinha com alguns poucos amiguinhos, o vírus nos pegou. Foi leve e rápido, vocês nem sentiram. Mas por duas semanas, mais do que qualquer coisa, fiquei com muito medo de ter passado pra alguém, especialmente pros avós de vocês. Depois do contágio, um misto de medo e liberdade tomou conta, sabe? Estávamos teoricamente imunizados por um tempo mas nada havia mudado, o vírus seguia ali, e as máscaras e o álcool gel continuavam sendo nossos parceiros inseparáveis. Ainda que com todos cuidados mantidos, fomos a Gramado, a praia, ao clube, a pracinha. Tivemos o melhor verão possível dentro das possibilidades e eu confesso pra vocês que jamais pensei que seria tudo tão ruim e intenso outra vez, até a vacina já existia! Mas é março de novo e cá estamos nós, em casa, saindo apenas pro essencial, dessa vez com o medo e o risco bem alinhadinhos.
O último ano foi intenso, meus amores, mais ainda com todo um contexto que envolve a política do nosso país que eu prefiro nem comentar (se as coisas não mudarem tanto assim na educação, um dia vocês ainda vão estudar e tentar entender). Passamos muito mais tempo juntos do que jamais pensei que passaríamos. Tem grito, tem choro, tem cansaço. Mas muito mais que isso tem alegria, aprendizado e diversão. Nesse tempo que passou a Mel caminhou, tu desfraldou, o Rafa nasceu. Todos cresceram. Até eu.
Já me perguntei várias vezes como seria sem vocês. Mais fácil? Menos cansativo? Talvez. Mas bem menos leve e com muito menos amor. Olhar pra vocês é o que me faz ter esperança todos os dias. Esperança de que no próximo mês de março que a mamãe tanto ama a gente possa dizer: nem acredito, passou.
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